Nem Queiroz, nem Lula Livre ou petrolão. O debate político dos últimos dias, com muito fígado e pouco conhecimento, se deu em torno da utilização ou não de um medicamento que pode trazer benefícios no tratamento de quem contraiu a Covid-19: cloroquina. Até aqui, não há evidências científicas suficientes apontam médicos e cientistas, mas é preciso reconhecer que há relatos de melhora no quadro de quem enfrentou a doença que paralisou o mundo nas últimas semanas. Afinal de contas, quem está certo?
Em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV nesta quarta-feira (9), o presidente da República, Jair Bolsonaro, voltou a se posicionar em favor do uso da substância. Na fala - a mais ponderada até aqui -, o presidente anunciou a importação de matéria-prima para continuar produzindo a hidroxicloroquina e fez coro aos que defendem a substância como solução para vencer o coronavírus. Foi aplaudido por seus apoiadores que acusam adversários políticos de sonegarem informações sobre o uso do medicamento, a ponto de produzir um ataque virtual ao médico David Uip, que virou alvo da ira de bolsonaristas na linha de ataque ao governador de São Paulo, João Dória.
Dória, que tem protagonizado embates com Bolsonaro durante a crise, se defendeu, ao afirmar que Uip já teria orientado o Ministério da Saúde a respeito da distribuição de cloroquina na rede pública. A fala ecoou. De Brasília, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, reagiu, explicando que a recomendação para prescrição em casos graves já havia sido adotada pelo ministério, indicando que a disputa política não contribuía para o debate posto. "Esse medicamento não tem paternidade", alfinetou.
Politizar o uso de um medicamento a essa altura do campeonato parece mesquinho e ineficaz diante da triste e veloz ascensão no número de mortos por conta do novo coronavírus. Pedir serenidade e seriedade aos governantes de pouco adiantaria, quando as militâncias inflamadas nas redes sociais parecem sugerir justamente o contrário. Neste cenário, voltemos nossos olhos aos profissionais de saúde. Ouçamos médicos, farmacêuticos, pesquisadores. Saúde, acima de tudo. Ciência, acima de todos.
Posição do Ministério da Saúde
Os medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina são estudados em seis dos nove ensaios clínicos que estão em andamento no Brasil para avaliar alternativas contra a covid-19. O Ministério da Saúde mantém a orientação de utilizá-los apenas em pacientes hospitalizados e considerados casos graves. Até o final de abril, novas conclusões preliminares podem mudar os protocolos.