Em tempos de acirramento dos conflitos no Oriente Médio e especulações sobre retaliação e guerra, há uma lição por trás do filme de Fernando Meirelles que concorrerá, neste domingo, em quatro categorias do Globo de Ouro. E quem chama a atenção para o tema é o próprio Meirelles, com quem conversamos nesta sexta-feira (3) no programa Timeline, da Rádio Gaúcha. O filme que inicialmente narraria a vida do Papa Francisco — e se chamaria O Papa — acabou concentrado na dualidade formada pelo argentino Bergoglio e o alemão Ratzinger, respectivamente os papas Francisco e Bento XVI. E é a partir deste encontro, antagônica, que Meirelles apresenta um dos seus temas favoritos no longa: a tolerância.
— Esse (tolerância) foi o tema que mais me interessou. O filme toca em outros temas. Mas este é o que mais me interessou. E talvez seja por isso que o filme esteja indo tão bem, tendo uma resposta de público ótima. Todo mundo está vivendo isso. Aqui no Brasil, a gente sabe bem como está essa questão da intolerância. Você não querer ouvir o outro. Você se agarrar no que você acredita e perder a capacidade de escutar. Tem uma frase do filme que eu adoro. O Bento XVI fala pro Bergoglio: "eu não acredito em nada do que você diz, eu não gosto de nada do que você faz, mas por alguma razão eu acho que você está certo, que esse é o seu momento". Quer dizer, isso é o máximo de tolerância. Eu posso discordar de alguém, mas não só tolerar como dizer: "tenta do seu jeito que do meu não está dando certo". Então tem esse espírito. Cara, desarma um pouquinho e tenta ouvir o outro. Dê uma chance — afirmou.
De fato, Meirelles tem razão. A intolerância tem falado cada vez mais alto. Gritado. Ninguém se escuta. Todos têm razão. Mas, façamos a reflexão: quem sabe o outro pode ter algo a nos acrescentar? Sejamos mais tolerantes. Desarmemo-nos. Ainda que o mundo inteiro tente dizer o contrário.