A confirmação da data de estreia de Marighella, filme de Wagner Moura, foi celebrada como uma vitória da democracia para o autor do livro que inspirou a obra, o jornalista e escritor Mário Magalhães. Pela nova previsão, o longa será disponibilizado no Brasil em 14 de maio de 2020. A polêmica se deu porque a equipe do filme pretendia levá-lo aos cinemas em 20 de novembro do ano passado, data da Consciência Negra no Brasil. No entanto, segundo nota da própria equipe, exigências da Agência Nacional do Cinema (Ancine) impediram a estreia.
A coluna conversou com Mário Magalhães sobre a novidade. Ele classificou a confirmação da estreia para abril como uma "péssima notícia para o autoritarismo". Na avaliação do jornalista, o ponto central da discussão é garantir o direito de quem deseja assistir ao filme.
— É uma boa notícia para a democracia e uma péssima notícia para o autoritarismo. Ninguém é obrigado a assistir ao filme dirigido pelo Wagner Moura ou a ler o livro que eu escrevi. Mas é direito democrático de cidadãs e cidadãos assistir às obras de arte que bem entenderem. Assim como nenhum leitor é obrigado a gostar da biografia "Marighella", nenhum espectador é obrigado a gostar do filme "Marighella". A questão central é que é direito de quem quiser ver o filme — afirmou.
Guerrilheiro e fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella é um dos principais personagens da luta armada contra a ditadura militar brasileira, e acabou sendo morto a tiros em 1969. Sobre o personagem central, do livro e do filme, Mário acrescenta:
— É legítimo amar ou odiar o personagem histórico Carlos Marighella ou o livro e o filme que contam sua história. Inadmissível é a censura. Quem gosta de censura é ditadura — opinou.
Mário Magalhães também falou sobre iniciativas, segundo ele, orquestradas pelo governo de Jair Bolsonaro no sentido de barrar a exibição do filme. E disparou críticas a este tipo de movimento:
— Houve uma série de iniciativas de governo e Estado tentando impedir a exibição do filme "Marighella". Elas caracterizam censura. A censura é habitual em tempos de obscurantismo cultural e intolerância política. Deve ser combatida em qualquer governo, de qualquer coloração política — afirmou.
A biografia "Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo" foi lançada pela Companhia das Letras no final do ano de 2012 e está na oitava reimpressão. Recebeu seis prêmios literários e jornalísticos. O filme foi rodado em dezembro de 2017 e janeiro e fevereiro de 2018 nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. A estreia ocorreu no Festival de Berlim, um dos três mais importantes do mundo, em fevereiro de 2019. A participação foi hors-concours, ou seja, o filme não concorreu a prêmios. O ator e cantor Seu Jorge já recebeu por "Marighella" prêmios de melhor ator em dois festivais do exterior.