Veio do procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, em Curitiba, a avaliação e o alerta de que o pacote anticrime idealizado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, aprovado pelo Senado na última quarta-feira (11), foi desidratado de forma preocupante justamente em um ponto crucial para a transformação de um desacreditado cenário político: o combate à corrupção. Deltan usou uma metáfora interessante. Pontuou que era como se desejássemos "tratar um câncer com vitamina C", dada a timidez das medidas aprovadas. Em suma, ressaltou que as alterações realizadas por deputados e senadores pouco mudariam a forma como se enfrenta um dos problemas mais graves e que insiste em sangrar os combalidos cofres públicos brasileiros.
Como revelou GaúchaZH, na versão validada pelo Congresso, ficaram de fora algumas das principais bandeiras do ex-juiz federal Sergio Moro, que reiterou em mais de uma oportunidade ter aceitado o convite para ser ministro de Bolsonaro com o propósito de consolidar o trabalho que vinha sendo realizado pela força-tarefa da Lava Jato contra a corrupção. Entre os pontos alterados estão: a prisão após condenação em segunda instância e o chamado plea bargain (a possibilidade de que criminosos concordem com uma pena mais branda ao confessar o delito sem ir a julgamento).
Diante disto, é prudente perguntar. Era de se esperar que um Congresso envolto em casos recorrentes de corrupção e crimes de colarinho branco advogasse em favor de medidas como essas? Difícil. Assim como as dez medidas contra a corrupção, o pacote anticrime de Moro foi aos poucos perdendo força e essência. Seria ingenuidade pensar que talvez pudesse ser diferente.
Lembrou Dallagnol, ao mais uma vez usar como metáfora om um diagnóstico médico:
— Vejamos. Um médico quer entender o que você tem. Qual é o diagnóstico. Isso a Lava Jato fez ao longo de três anos. Em seguida, apresentamos um pacote de 10 medidas contra a corrupção, feitas pelo Ministério Público. Depois, um pacote de 70 medidas contra a corrupção feitos pela sociedade civil e mais de 200 especialistas. Foi chamado de "Novas Medidas Contra a Corrupção". Aí depois, veio o pacote anti-crime, com uma série de regras relevantes. Metade era anti-corrupção. E o que vemos que acontece? Cada um desses pacotes é drenado, ou não é aprovado. Até hoje não tivemos um avanço consistente nesse tratamento contra a corrupção. E por que isso acontece? Olhem ao redor do mundo. Todo mundo sabe o que a gente tem que fazer contra a corrupção. Por que essas mudanças não são aprovadas no Brasil? — questionou.
Sabemos a resposta. Não é preciso tanto raciocínio.
Mas há uma esperança, pontua Deltan. A transformação do próprio Congresso. E para isso, caro leitor, não há outro caminho que não a urna. A escolha, veja só, está em nossas mãos.
— O único caminho que a gente tem para mudança é por meio de uma política nova. Se o ouvinte está indignado, use essa indignação nas urnas. A gente precisa de mais cidadania. Não adianta achar um santinho na rua, achar bonita a pessoa e votar nela. Tem que ver o passado dele, ver se tem preparo. Se é uma pessoa comprometida, com integridade, com o combate à corrupção. Eu acredito nessa mudança. A nossa esperança são os cidadãos — ponderou.