Querida Marciele,
Li a notícia sobre a sua morte no final da tarde quente de segunda-feira (25), com vento que parecia anunciar a chuva que só chegaria ao Estado nesta terça-feira (26). Contava a reportagem que você estava trabalhando quando foi atropelada por um carro conduzido por criminosos, servindo ao Estado e a uma sociedade que diariamente assiste a mortes violentas sem que consigamos reverter as estatísticas. Li também que você ingressou na Brigada Militar em 2012, talvez munida deste sonho, de transformar o mundo que vivemos em um lugar melhor, combatendo a criminalidade e garantido a segurança dos cidadãos e cidadãs gaúchas.
Pensei em quantos sonhos ainda eram seus, já que você tinha apenas 28 anos. Sonhos que foram interrompidos enquanto você fazia o seu trabalho. Pensei também em quantas vezes nós, mulheres, somos desencorajadas a seguir os nossos sonhos. Mas munidas de uma força interior e inspiradas por mulheres valentes, assim como tu, seguimos adiante. Sabe, Marciele, eu fico pensando em tantas meninas que percebem, ao ver mulheres fortes na nossa Brigada Militar, que podem sonhar alto e chegar lá. Já temos uma mulher à frente da Polícia Civil — é a primeira na história — e agora também uma mulher integrando o alto escalão da BM. Tudo isto fruto de uma coragem de quem sabe onde quer chegar. Essa coragem que tu tinhas.
Talvez tu nem tenhas te dado conta disso. Mas eu te digo: saber da tua força é inspirador. A tua partida precoce entristece não só a mim. Mas a toda uma geração de meninos e meninas que sonha com uma sociedade melhor. Que luta por um mundo mais justo e menos desigual. Quando morre um policial militar, morremos todos nós. Morre parte desta esperança que vive dentro da gente que acredita nesta transformação. À tua família, eu queria deixar um abraço apertado. Pedir desculpas porque falhamos como sociedade. E dizer que, acima de tudo, teus sonhos permanecerão vivos com a gente nesta luta por justiça.