Cazuza, um dos grandes nomes do pop rock nacional, fez shows memoráveis em Porto Alegre. O que poucos sabem é que ele também cultivou amizades, andou de Fusca, perambulou pela Avenida Osvaldo Aranha e frequentou casas noturnas locais — entre elas, o bar Ocidente, ícone da noite porto-alegrense.
— Ele teimava em chamar o Ocidente de Oriente! — diverte-se o professor de inglês Marcos Lobão, um dos amigos que o artista deixou por aqui.
Os bastidores dessa história estão registrados na fotobiografia Cazuza - Protegi teu nome por amor (WMF Martins Fontes, 567 páginas), que será lançada no dia 15 de novembro na Feira do Livro da Capital (leia os detalhes abaixo). A obra, organizada por Lucinha Araujo e Ramon Nunes Mello, tem prefácio de Gilberto Gil e um texto de Pedro Bial.
Até então desconhecido da maioria dos fãs de Cazuza, o depoimento de Marcos Lobão aparece nas páginas 326 e 327, com fotos e registros inéditos da época. Entre eles, estão um autógrafo do cantor e o número de telefone rabiscado pelo astro em um pedaço do jornal Zero Hora (!).
O primeiro encontro com o ídolo, segundo Marcos Lobão, ocorreu em maio de 1984, no antigo Taj Mahal (casa noturna que ficava na Avenida Farrapos, perto da Ramiro Barcelos).
Cazuza encerrou o show com o Barão Vermelho e caminhou até a plateia. Estava chateado por algum desentendimento no palco. Viu Marcos Lobão e seu amigo Dante Longo (que se tornaria produtor da banda Nenhum de Nós) e não teve dúvidas:
— Gaúchos, me tirem daqui!
Assim começou essa história improvável, no Fusca azul de Dante Longo. Eles levaram o cantor para o hotel, no Centro, e depois para a boate B52.
— Foi uma coisa totalmente inesperada, tipo: o Cazuza com a gente? Como assim? Ele até pediu para dirigir o Fusca do Dante! Foi uma loucura — recorda Marcos Lobão.
Meses depois, eles se reencontraram numa festa no Rio de Janeiro.
— Aí aconteceu tudo de novo: de repente, ele olhou para a gente e disse: "Vamos sair daqui, gaúchos!" — conta o professor, dando risada.
Dessa vez, ele e Dante foram com Cazuza no carro do compositor (um Fiat Premium) para o apartamento do astro no alto Leblon. Era no térreo. O cantor fez omelete para os amigos e botou discos para tocar na vitrola, cantando junto.
— Foi inesquecível. Ele deitava no chão, cantava Billie Holiday, Lupicínio Rodrigues, Police. Saíamos de lá às 7h. Mais tarde ligamos para ele, e o Cazuza nos convidou para ir a um show na boate Mamute — relata o porto-alegrense.
Em janeiro de 1985, o artista voltou a Porto Alegre para apresentar a turnê Maior Abandonado no Gigantinho. Era o auge do sucesso.
Dessa vez, ele recebeu os gaúchos no hotel e até pediu ajuda na escolha do figurino. Dante fez fotos. Eles estavam com o jornalista Jorge Gorgen, que estudou na PUCRS e hoje atua em São Paulo.
Também foi nessa ocasião que o grupo saiu pelo Bom Fim, caminhando, para ir ao Ocidente (ou seria Oriente?!), fato registrado mais uma vez por Dante, na Osvaldo Aranha, esquina com André da Rocha. Na imagem, Cazuza aparece entre Dante, Marcos Lobão, Ezequiel Neves, Ana e Cláudia Von Bock. O Ocidente estava lotado, e o cantor, é claro, fez a festa.
Depois disso, recorda o professor de inglês, veio a doença (o HIV, à época ainda pouco conhecido), e a turma só voltou a se ver na turnê de Ideologia/O tempo não para, em 1988, quando o Marcos Lobão foi apresentado por Cazuza a seus pais, Lucinha e João, em Porto Alegre.
Foi o amigo gaúcho, aliás, que mostrou ao cantor a música Camila, Camila, do grupo Nenhum de Nós, que ele gravaria pouco depois (a canção saiu no disco póstumo Por aí, de 1999).
Até hoje, o professor lembra com carinho do amigo que partiu em 7 de julho de 1990. Se o astro gostava de Porto Alegre? Ele não tem dúvida.
— Cazuza adorava Porto Alegre e o Lupicínio Rodrigues. Achava meio bucólico — diz Marcos Lobão, que também é amigo pessoal de Caetano Veloso (mas essa já é outra história).
Serviço
O quê: sessão de autógrafos da fotobiografia Cazuza - Protegi teu nome por amor (WMF Martins Fontes, 567 páginas), organizada por Lucinha Araujo e Ramon Nunes Mello, com a presença de Ramon
Quando: 15 de novembro, às 19h
Onde: na Praça de Autógrafos Gerdau, na Feira do Livro de Porto Alegre