O jornalista Carlos colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço.
Alvorada não tem cinema. No sentido de um espaço de para se assistir filmes. Porém, o povo de Alvorada faz cinema. E desde muito cedo. Nesta cidade da Região Metropolitana, existe um projeto chamado Clube das 5, que nasceu em 2013 e, de lá para cá, cerca de 300 alunos da rede pública municipal puderam aprender a fazer filmes.
A iniciativa partiu do professor André Bozzetti, que relata nunca ter se encaixado no modelo tradicional das escolas e sempre teve a crença de que projetos extracurriculares, principalmente os ligados à cultura, eram fundamentais para o desenvolvimento dos alunos. E, mesmo com o nome do projeto sendo inspirado no clássico da Sessão da Tarde Clube dos Cinco, de 1985, o coordenador acredita que ele vai além da sétima arte:
— A principal função do Clube das 5 é abrir os olhos dos alunos para outras realidades. Me perguntam sobre quantos alunos seguiram carreira no cinema, mas esse não é o objetivo. As oficinas trabalham desde a alfabetização audiovisual, que é fundamental para o desenvolvimento do senso crítico, até a liberdade para que os alunos expressem sua criatividade e suas aptidões artísticas, que muitas vezes nem sabiam que possuíam.
E, de acordo com Bozzetti, os pais que acompanham o desenvolvimento dos filhos no projeto, comentam que, a partir do Clube das 5, passam a conhecer o potencial das crianças e, ainda, percebem a importância de se oportunizar diferentes vivências para eles. Tudo de graça, claro. A iniciativa abraça alunos, geralmente, a partir do sexto ano do ensino fundamental – mas não há limite mínimo ou máximo de idade.
Festival internacional
Desde 2015, o município também abriga o Festival Internacional de Cinema Escolar de Alvorada (Fecea), iniciativa que é organizada pelo próprio Bozzetti e pelo professor Adaílton Moreira, coordenador do projeto Primeira Tela — mais um voltado para a sétima arte na cidade da Região Metropolitana.
Bozzetti conta que a ideia surgiu quando ele levou os alunos do Clube das 5 para o festival Primeiro Filme, de onde já saíram premiados na primeira participação. Foi neste ambiente que percebeu a possibilidade de trocas e intercâmbio cultural que um evento deste tipo possibilita. E a iniciativa ganhou ainda mais tração quando o grupo foi selecionado até para um festival no Uruguai, com os professores e alunos indo para o país vizinho por conta do cinema.
— Ver os nossos filmes sendo exibidos em um teatro lotado, legendados em espanhol, podendo acompanhar a reação do público, foi uma experiência incrível. Eram alunos que nunca tinham viajado de avião, nunca tinham ficado em um hotel, um deles jamais havia saído de Alvorada. E lá estavam, conversando sobre cinema e muito mais com estudantes de vários países da América Latina — recorda Bozzetti, orgulhoso dos seus pupilos.
A partir da vivência de lá, começou a internacionalização do Fecea e, chegando em sua 10ª edição, já passaram pelo festival cerca de 10 mil filmes, de 95 países. E com um volume de inscrições impressionante: se no primeiro houve 65 filmes concorrendo, atualmente são cerca de 1.200 por edição, de lugares curiosos como Singapura, Cazaquistão, Geórgia, Sri Lanka e Azerbaijão.
— Também recebemos dezenas de filmes de regiões de conflito como Rússia, Ucrânia, Israel, Palestina e Irã, por exemplo. Grande parte deles feitos por crianças, mostrando a sua visão sobre a guerra. Muitos outros, apesar da guerra, trazendo histórias que fogem deste tema, mostrando a arte como um refúgio em tempos sombrios — enfatiza Bozzetti.
A 10ª edição do Fecea ocorre no dia 30 de novembro, a partir das 16h, na Câmara Municipal de Alvorada (Rua Contabilista Vitor Brum, 21 - Maringá). E é aberto ao público. Basta chegar e festejar o cinema!