Quanto custa um estupro? A pergunta é retórica e simplista, eu sei. Mas é impossível não pensar nisso quando um tribunal dá a um condenado por crime de violência sexual o direito de pagar fiança para deixar a prisão.
No caso do jogador brasileiro Daniel Alves, custou um milhão de euros. Cerca de R$ 5,4 milhões, na conversão atual. Com aval da Justiça espanhola, depois de idas e vindas, ele conseguiu efetivar a operação financeira nesta segunda-feira (25) para sair da cadeia e aguardar o julgamento dos recursos em liberdade.
A prerrogativa está na lei, ou seja, não se trata de uma decisão sem legitimidade jurídica. Não é ilegal. Foi chancelada pelo Judiciário, com todos os méritos para a equipe de advogados do ex-craque, hoje vergonha nacional.
O meu ponto é: que tipo de mensagem uma decisão como esta passa para a sociedade, do ponto de vista ético e moral? Qual é a simbologia por trás das imagens de Daniel Alves deixando a prisão, que vemos em todos os jornais, telejornais e sites de notícias? O que isso significa, depois de tudo o que vimos e ouvimos sobre o crime e diante da escalada dos crimes contra mulheres, incluindo feminicídios?
No fundo, fica parecendo que basta ter dinheiro para poder estuprar alguém e, mesmo sendo condenado a quatro anos e seis meses de prisão, escapar das grades. Um estupro, dessa forma, soa como aceitável? "Isto é crime, meu senhor", diria o burocrata em um filme non sense qualquer, "mas, se o senhor tiver um milhão de euros, vá em frente, está tudo bem".
Ficção ou realidade? Exagero meu? Não, não é o primeiro caso do tipo nem será o último. Infelizmente.