A moda, agora, é o Carnaval retrô. Aquele mesmo, das antigas, com um toque moderninho. É a nostalgia vestida de Colombina, abrindo os braços e falando bem alto:
— Vem! Vem pular comigo! Eu voltei!
Também pudera. Quem viveu (e até quem só ouviu falar) dos Carnavais de outrora entende os motivos por trás do desejo de (re)viver o passado - aqueles blocos cheios de purpurina, o samba cadenciado arrastando as chinelas nos paralelepípedos, os tradicionais bailes nas agremiações sociais.
Muito confete e serpentina joguei no salão do antigo Clube União, em Santa Cruz do Sul, onde hoje funciona uma loja de departamentos.
Foi lá, naquele piso de madeira e de tantas histórias, que aprendi todas as marchinhas que você e eu sabemos de cor - sim, porque todo mundo conhece aquelas canções de versos fáceis e espirituosos. Algumas acabaram “canceladas” por destilar preconceitos, é verdade, mas outras seguem firmes, fortes e atuais. Tenho para mim que, enquanto houver quem cante, não vão morrer. Jamais.
Ô, abre-alas, que eu quero passar… assim, fantasiada de havaiana, com duas chuquinhas na cabeça e estrelinhas coladas nas bochechas, eu adentrava o clube de mãos dadas com a minha mãe. Fecho os olhos e posso sentir a sensação de ver pela primeira vez aquele salão. Para uma guria de 5 anos, o lugar parecia gigantesco: todo enfeitado com bandeirolas, máscaras e paetês, era a promessa de uma tarde de regozijo.
No palco, a banda animava a matinê infantil, e a criançada corria, pulava, gritava e se atirava no piso polvilhado de papel picado. Minha mãe, hoje parceira de muitas outras festas, levava saquinhos com confetes na bolsa e me entregava. Era a melhor parte.
Allah-lá-ô, ôuôôuôôô… e assim a coisa ia até o entardecer, naquele “balancê, balancê” pueril, ingênuo e todo meu. Nosso.
A identificação com as festas de Momo é tanta, que muitos brasileiros têm certeza de que o Carnaval nasceu aqui. Onde mais haveria de ser? Quando descobrem que não é bem assim, ficam surpresos.
A celebração ancestral ganhou o mundo na carona da fé católica, desde a Roma antiga. É a festança que antecede o período de resguardo - a Quaresma, a 40 dias da Páscoa, quando os devotos se abstêm de comer carne. A palavra Carnaval vem do latim “carnelevarium”, algo como “eliminar a carne”. É, portanto, o excesso antes da penitência. O exagero.
Por aqui, a tradição carnavalesca chegou a bordo das caravelas portuguesas, desembarcou e se instalou de vez. Você pode até detestar a muvuca, mas há de admitir: o furdunço tornou-se tão popular entre nós que o ano só começa, mesmo, depois da Quarta-Feira de Cinzas (melhor nome, impossível).
Neste Carnaval, aquela menina de chuquinhas e de confetes nas mãos vai renascer nos bloquinhos de rua, que vão ocupar Porto Alegre e cidades do Interior, com ares de antigamente. Colombina, dando gargalhada, vai cair na gandaia e gritar, cheia de animação:
— Daqui não saio, daqui ninguém me tira!