Ela foi alvo de julgamentos de todo o tipo: por seu peso, por sua idade, pela celulite. A patrulha do corpo alheio (em especial, o feminino) não poupou nem mesmo a atriz Paolla Oliveira, talentosa e deslumbrante, da cobrança por padrões de beleza que todas nós, mulheres, conhecemos muito bem.
Paolla respondeu na avenida. Foi o destaque da Grande Rio na primeira noite de desfiles do grupo especial do Carnaval carioca. Brilhou na Sapucaí, incorporando, em trejeitos e olhares ferinos, uma onça pintada. Já dá para afirmar, com toda a certeza, que foi a fantasia mais bonita e surpreendente do espetáculo deste ano. Paolla arrasou e calou os sem noção.
Vendo aquela deusa desfilar, fiquei me perguntando: se ela, que é a perfeição em pessoa, sofreu críticas pela aparência, o que sobra para nós, reles mortais? Mulheres vivem isso todos os dias e, não raro, as críticas vêm de outras mulheres, um sinal de que a cultura do corpo está introjetada muito mais fundo em nós do que imaginamos. Paolla foi criticada por elas e também por eles.
Para quem não lembra, ela fez um longo desabafo em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, em meados de janeiro, por um fato ocorrido dias antes.
Em dezembro de 2023, a atriz havia publicado um vídeo nas redes sociais se divertindo em um ensaio da Grande Rio. Recebeu o quê? Uma enxurrada de julgamentos de todos os tipos. E cansou. Decidiu falar. Em rede nacional.
— Eu não acordei um dia e falei assim: "A minha pauta da vida vai ser corpo", do nada. Eu fui provocada, estou sendo provocada há anos. Assim, eu imagino que várias mulheres que estão assistindo agora vão sentir também essa provocação. É o tempo inteiro, só que a gente se cala — disse ela, certeira.
Mais uma vez, o tema aqui se repete. Foi assim, também, com Luísa Sonza e o seu bumbum no Planeta Atlântida. Escrevi sobre aquele episódio e vou pedir licença para voltar ao assunto quantas vezes for necessário: o assunto, aqui, não é beleza; é liberdade. Liberdade, como disse Paolla, de ter o corpo que quiser, de sair com a roupa que escolher sem ser atacada, de ser quem se é.
A onça rugiu na avenida e o rosnar foi de libertação.