Situações extremas, como a tempestade severa que atingiu o Rio Grande do Sul na última semana, servem, ao menos, para alguma coisa: no caos, descobrimos “quem é quem”.
É nos momentos de crise, não na normalidade, que se multiplicam os bons e os maus exemplos. Cada um de nós reage de uma forma às catástrofes. A sociologia dos desastres é farta em estudos sobre o assunto.
Há os que crescem em altruísmo, magnânimos, solidários, prontos a ajudar. Todos nós conhecemos alguém assim.
É aquele vizinho que se envolve desde o início e que puxa o mutirão para apoiar quem perdeu tudo no bairro.
É o desconhecido que empresta a escada, a senhora que oferece o copo d’água, o anônimo que pergunta como você está.
Nas pequenas localidades, todos se conhecem. Nas grandes cidades, não é assim. Muitas vezes, você mal sabe quem é o morador ao lado. Não importa. Na hora mais difícil, ele vai aparecer. E vai fazer a diferença.
Talvez ele seja você.
Há, também, os que se tornam apáticos na crise. Em geral, nem sequer são vistos. Ficam paralisados diante dos estrago. Sentem-se impotentes. Preferem recolher-se e esperar. Não atrapalham, mas também não têm a mesma capacidade agregadora dos que estão na dianteira.
Por fim, há aqueles que querem tirar vantagem da situação. Sempre há.
São tipos variados. Um deles é o que se aproveita do caos para ganhar dinheiro em cima da desgraça alheia. Este é pior de todos.
Você sabe: é o comerciante que triplica o preço das garrafas de água, dos sacos de gelo e dos pacotes de velas, quando esses produtos são essenciais para quem vive o momento difícil.
É o dono do hotel que aumenta o valor da diária para potencializar os ganhos, afinal, “o capitalismo é assim mesmo”.
É proprietário da padaria que decide desligar as tomadas para que os clientes não fiquem ali, ocupando mesas para recarregar os telefones, consumindo pouco e gastando energia “de graça”.
Quando tudo isso passar, lembremos de quem fez a diferença. Eu, por exemplo, não pretendo esquecer de Juliano Bernardon, dono do Tradicional, um simpático mercadinho no bairro onde moro, em Porto Alegre.
Juliano viu que a vizinhança estava em apuros com os celulares desligados. Então, instalou uma régua com dez plugues junto a duas mesas na parte externa do estabelecimento. Ele chegou a ir a sete postos de combustível atrás de diesel para manter em funcionamento o gerador - e, assim, garantir energia para seu negócio e para os clientes, que viraram amigos, enternecidos com o gesto solidário e gentil.
Para a nossa sorte, há muitos Julianos por aí, gente que “faz o bem sem olhar a quem”, que ajuda a unir as pontas do tecido social e amarrar firme essa coisa que chamamos de sociedade.
São essas pessoas que merecem a nossa consideração, não as outras que, por alguns trocados, perderam a chance de mostrar grandeza.