Mais uma vez, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre agenda em Porto Alegre, criticou o sistema eleitoral brasileiro e, de novo, não mencionou provas ou indícios de fraude das urnas eletrônicas. É sempre bom lembrar: desde que o modelo digital estreou no Brasil, nas eleições de 1996, nunca houve irregularidade comprovada.
— Por que você não pode criticar o sistema de votação, meu Deus do céu? Que democracia é essa? — questionou o político, durante entrevista ao Gaúcha Atualidade nesta sexta-feira (23).
Bolsonaro corre o risco de ficar inelegível por oito anos, em um processo que está sendo julgado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que trata exatamente desse tema. Proposta pelo PDT, a ação acusa o ex-chefe de Estado de abuso de poder político e de uso indevido dos meios de comunicação. O motivo é a reunião com embaixadores realizada no Palácio do Alvorada em julho de 2022, quando o então mandatário levantou, sem provas, suspeitas sobre o sistema eleitoral. O evento foi transmitido pela TV Brasil.
O ex-presidente está certo quando afirma que o próprio PDT, desde os tempos de Leonel Brizola, foi um partido crítico às urnas eletrônicas. Ele foi o primeiro ao questionar o sistema, que inclusive evoluiu a partir de apontamentos críticos.
A diferença, nesse caso, foi a decisão de Bolsonaro, às vésperas do pleito de 2022, de questionar as urnas eletrônicas em rede nacional e diante de representantes diplomáticos com a clara intenção de conturbar o processo eleitoral e, desde sempre, lançar suspeitas sobre o resultado futuro.
Tudo isso, repita-se, sem jamais ter apresentado qualquer comprovação do que dizia. É isso que está em discussão no Judiciário, a quem caberá julgar o caso, suspenso no começo da tarde de quinta-feira, e decidir se Bolsonaro é culpado ou não.
Independentemente do resultado do julgamento, lançar suspeitas ao vento sobre a segurança das urnas eletrônicas é, no mínimo, desconsiderar o fato de que todo o processo, do início ao fim, é fiscalizado de perto por um batalhão de gente: mesários, representantes de partidos, organismos nacionais e internacionais, especialistas. Isso sem contar as mais de 30 barreiras de segurança do sistema, os testes públicos, as auditorias.
Desde os tempos do Brasil Império, a adulteração de resultados foi uma constante nas disputas por cargos eletivos no país. O problema só começou a ser combatido de forma estruturada a partir de 1932, com a criação da Justiça Eleitoral. Desde então, o processo evoluiu, e a informatização foi fundamental para reduzir a intervenção humana - principal causa de erros, involuntários ou não.
As urnas eletrônicas deixaram no passado um tempo marcado por longas, conturbadas e duvidosas contagens de votos em papel. Antes da era das fake news, figuravam no hall de conquistas da nação. É uma invenção genuinamente brasileira e, até agora, apesar de todos os ataques e de todas as suspeitas, o sistema segue imune.