Enquanto o mundo discute limites à Inteligência Artificial (IA), os sistemas que usam tecnologia generativa seguem dando mostras do que são capazes. Dias atrás, uma amiga me enviou fotos de comida no Instagram: pratos flambados sedutores e um cupcake de baunilha perfeito.
Tudo irreal. As imagens eram amostras do que é possível criar a partir das novas ferramentas virtuais.
Por sorte, os autores foram honestos. Joanie Simon, fotógrafa de gastronomia nos Estados Unidos, até brincou, ao postar o apetitoso bolinho: “Ótima notícia, economizei uma grana sem precisar comprar ovos”, escreveu ela, para em seguida refletir sobre o impacto e o compreensível espanto causados pela IA (veja abaixo).
No caso da indústria alimentícia, daria até para ir mais longe no debate: ok, as imagens mencionadas não são reais, mas o que - nos ingredientes que consumimos diariamente - é de fato “comida de verdade”? Você têm certeza do que anda mastigando?
Lembrei da Rita Lobo, apresentadora de TV que iniciou uma batalha contra os alimentos ultraprocessados, com todos os conservantes e aromatizantes artificiais que a gente engole sem se dar conta. De certa forma, é comida de mentira, também, como o cupcake criado por Joanie.
Isso não quer dizer que está “tudo bem” com fotos e vídeos fake, cada vez mais difíceis de identificar. Não está nada bem, e o potencial de danos é tão grande quanto a janela de oportunidades que se escancara à frente.
A parada estratégica defendida em dois manifestos recentes (assinados por ativistas digitais e experts no assunto) não só é válida, como urgente, mas sejamos realistas: não vai dar em nada. É difícil acreditar que alguém pretende realmente frear o avanço das pesquisas em curso. Nessa corrida tecnológica bilionária, ninguém quer ficar para trás. E a gente que lute.