Sob o sol inclemente de um verão sem fim, uma multidão colore a orla do Guaíba neste final de semana. Mesmo sem entender nada de skate, fui até lá, sentei na arquibancada e vibrei, não só com as manobras radicais dos atletas do STU Nacional, o circuito brasileiro da modalidade, mas com algo mais: a visão de uma Porto Alegre orgulhosa de si e do que é capaz de oferecer.
O que vi foi um público jovem e diverso, gente de todas as cores e posses, curtindo uma programação diferente, em um lugar que, há alguns anos, era sinônimo de abandono. Na hora, lembrei das resistências à revitalização, que por pouco não morreu no papel.
O ex-prefeito José Fortunati que o diga. Aos trancos e barrancos, Fortunati comprou a briga e bancou a ideia, que teve continuidade nas mãos de seus sucessores, Nelson Marchezan e Sebastião Melo, cientes da importância da proposta. Não foi - e não é - um caminho fácil.
Jaime Lerner, o arquiteto responsável, falecido em 2021, chegou a ser vaiado na Capital. Vaiado! Anos depois, em entrevista a GZH, ele diria que “no Brasil, a gente faz tudo para não fazer”. Nesse caso, a sina não se confirmou, e o sucesso de mais um evento no local é a prova de que a transformação foi um acerto.
O primeiro trecho inaugurado, próximo à Usina do Gasômetro, virou sucesso imediato de público, como ponto de encontro e de contemplação. Depois, veio a área concebida para as atividades físicas, com quadras de futebol, de vôlei, de beach tennis e a maior pista de skate da América Latina, outro fenômeno de popularidade.
E é assim, pelo esporte, motor de tantas transformações, que a cidade segue se reconciliando com o Guaíba. Jaime Lerner, enfim, estava certo.