A jornalista Raíssa de Avila colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço
Um queijo vegano, que derrete. Para quem não é afeiçoado com o mercado de alimentos sem resquício de origem animal pode até parecer algo simples, mas foi nesta lacuna que Vitor e Carlos de Conto, pai e filho, encontraram impulso. Vitor, 33 anos, sempre gostou de trabalhar com comida. Por ser vegano desde os 20, tinha experiência em tentar reproduzir sabores em alimentos à base de grãos e farinhas. Quando o pai, Carlos, 64 anos, se aposentou, as conversas sobre montar um negócio no ramo alimentício evoluíram e assim surgiu a O.V.N.I. (Organização Vegana Naturalista Ilimitada), que começou vendendo pratos congelados, feitos na cozinha da casa de Vitor, em Porto Alegre, no fim de 2019.
A partir disso, uma sequência de acasos fez a marca decolar: a pandemia, com uma grande demanda por delivery e clientes fiéis que reconheciam um diferencial nos produtos da família Conto, uma comida caseira e com causa.
— Sabemos que nossos clientes que militam pela causa animal foram um combustível poderoso. Faziam muita propaganda dos nossos produtos — conta Vitor.
E foi nesse boca a boca que a O.V.N.I decolou. Clientes começaram a indicar a marca para restaurantes que tinham carência de mais opções vegetarianas, e o queijo mozza, totalmente vegano, tinha uma característica considerada única no mercado, o derretimento. Como é possível?
— Sempre produzi o meu próprio queijo, mesmo antes de ter o meu negócio, por isso digo que esse é um projeto que nasceu há 10 anos. O consumo fez a O.V.N.I. melhorar seus produtos — reflete Vitor.
A expertise de Carlos, engenheiro de formação, foi essencial quando a marca cresceu e precisou se industrializar. O desafio era automatizar processos que antes eram artesanais _ e que interferem na qualidade do produto final. Carlos apostou no sonho do filho e adaptou maquinários, foi atrás de equipamentos em outros países e aprimorou processos para que a cozinha artesanal pudesse expandir. Hoje, são mais de 100 clientes ativos, restaurantes de 25 cidades do RS e SC que compram produtos como queijo, tofu, doces, manteigas e proteínas para as opções vegetarianas do cardápio, além claro, dos fiéis veganos que recorrem a loja na Rua da República, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, para abastecer a própria geladeira. Hoje, a marca que começou com pai e filho, já possuí mais dois sócios da família, a namorada de Vitor, Roberta Curra, e seu irmão Pedro de Conto, além de empregar 17 funcionários em um pavilhão no 4º Distrito, onde as delícias "de outro mundo" são produzidas.
— A comida vegana é a minoria do agora e maioria do amanhã. Com tudo que estamos vendo de mudança climática, a gente sabe que será uma grande demanda no futuro, muito por conta desse movimento jovem — aposta Vitor.