Vem aí a nova temporada da Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul (Cors), com destaque para a potência das vozes femininas. Primeira cooperativa de artistas criada para difundir a cultura operística no Estado, a Cors volta ao Theatro São Pedro, em Porto Alegre, nos dias 11 e 12 de março com um timaço de 30 mulheres.
Elas vão apresentar a montagem "Suor Angelica" (ou "Irmã Angélica", em português), do compositor italiano Giacomo Puccini (1858–1924), que estreou em 1918 na prestigiada Metropolitan Opera House, de Nova York.
Com direção musical da pianista e soprano Eiko Senda e direção cênica de Camila Bauer, o espetáculo se passa na Toscana no século 17, é cantado em italiano e terá legendas em português (uma baita ideia, que funciona muito bem e ajuda a popularizar a arte).
— Pela primeira vez, o Rio Grande do Sul tem uma companhia de ópera formada por artistas que decidem criar um espaço de arte, mercado e de trabalho em um terreno ainda masculino. É um projeto que descentraliza o poder, trazendo a mulher ao protagonismo — destaca Camila.
Os ingressos já estão à venda no site teatrosaopedro.rs.gov.br. Corre lá!
Mais detalhes sobre o espetáculo
"Suor Angelica" pertence - junto de "Il Tabarro e Gianni Schicchi" - à obra "Il Trittico", com três atos da última fase da vida de Giacomo Puccini. Foi, inicialmente, a que menos se tornou conhecida e ficou fora dos palcos por anos. Porém, recentemente, foi redescoberta e passou a integrar o repertório de companhias de ópera por todo o mundo. Uma particularidade nesta obra é o fato de que ela conta apenas com vozes solistas femininas.
O enredo conta a tragédia de Angelica que, após ter um filho fora do casamento, foi abandonada pela família em um convento para expiar a culpa de ter conspurcado a honra da família. Quando fica sabendo da morte de seu filho, que lhe fora retirado logo após o nascimento e de quem nunca mais tivera notícia, toma veneno para dar fim à vida. O drama atinge o clímax na agonia antes da morte, no arrependimento e na culpa de seu pecado.
— A montagem de uma fábula escrita no século 17 tem uma mistura de simbolismo e contemporaneidade, com lirismo, humor em vários momentos e dramaticidade, e mostra o quanto o enclausuramento e a tentativa de culpabilizar a mulher permeia séculos e ainda é tão atual — diz Camila Bauer.
Um grande elenco
No elenco, estão Rosimari Oliveira e Yasmini Vargaz (Suor Angelica), Angela Diel e Cristine Bello Guse (La Zia Principessa), Carol Braga (La Suora Zelatrice), Camila Umpiérrez (La Maestra delle Novizie), Elisa Lopes (Suor Genovieffa), Dêizi Nascimento e Kauanny Klein (La Suora Infermiera), Gabriela Nunes (Le Cercatrice), Júlia Bennemann (La Badessa), Fiama Devitte (Suor Osmina), Eliana Pires (Le Novizie), Cecilia Salatti, nome artístico de Eduarda Peixoto (Suor Dolcina e Suora Scherzosa) e Gaia Schenini (Le Converse).
Bate-papo e exposição
No dia da estreia (11 de março), às 18h, a Cors recebe Ligiana Costa, cantora, compositora, musicóloga e dramaturgista junto ao Festival Amazonas de Ópera e ao Theatro Municipal de São Paulo, onde também dirige e apresenta podcasts e conteúdos dedicados à música, ópera e produção cultural. O bate-papo com a vencedora do Prêmio Profissionais da Música 2021 será no Foyer Nobre do Theato São Pedro.
Ao final do espetáculo, será oferecido um coquetel ao público que participar da programação, que será coroada pela exposição fotográfica "Olhares sobre nossas irmãs", uma reunião de fotografias de Fernanda Chemale, Adriana Marchiori, Vitória Proença e Clara Albuquerque, entre outras fotógrafas gaúchas.
A exposição está sendo preparada a partir do olhar das artistas sobre o processo de montagem de "Suor Angelica", de seus ensaios e encontros entre as 30 mulheres envolvidas na produção. A exibição permanecerá aberta à visitação até 19 de março, na Sala de Exposições do Theatro São Pedro.