Caso se confirme, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de viajar aos Estados Unidos para não entregar a faixa ao sucessor será - no mínimo - um gesto de indelicadeza, de mau perdedor. É verdade que o ritual não é obrigatório (a Constituição Federal nem sequer cita o adereço), mas denota maturidade política e democrática. É um gesto simbólico.
Em 1º de janeiro de 2003, mesmo derrotado nas urnas ao apoiar o candidato José Serra, de seu partido (o PSDB), o então presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu o algoz - Lula, como hoje - e cumpriu o rito de passagem. Apesar do fracasso tucano e ainda que discordasse do resultado das urnas, FHC agiu como o estadista que sempre foi.
Já sei que a minha caixa de mensagens será inundada por e-mails de leitores inconformados, argumentando que Bolsonaro está certo ao se negar a vestir a faixa “em um ex-presidiário”. Mais do que isso: o atual mandatário provavelmente seria hostilizado pelos militantes petistas, o que, de fato, seria lamentável e igualmente condenável.
O país segue dividido e assim será por muito tempo, mas nada justifica a opção pela incivilidade, seja de que lado for.