Observar Daniel Petró Alano trabalhando é como acompanhar um artista em processo de criação. Com a velha tenaz na mão direita, ele fisga o aço ardente do interior da forja, que cintila a uma temperatura de 1.200°C. A peça incandescente é alinhada sobre a bigorna de 104 quilos, e as marretadas têm início. O som cadenciado e metálico dita o ritmo do criador. Aos 43 anos, Alano é um cuteleiro de mão cheia.
Casado, pai de dois filhos e servidor público do Estado, onde atua como subchefe do cerimonial do Palácio Piratini, o criador de facas de Viamão aprendeu o ofício nas horas vagas, já homem feito - ainda que as lâminas tenham atraído sua atenção desde menino.
Por curiosidade, aos 30 anos, passou a frequentar os encontros mensais da Associação Gaúcha de Cutelaria (AGC), considerada a maior da América Latina, com 200 associados. Encantou-se com o que viu.
—Aprendi olhando e fazendo. Comprei os equipamentos e passei a produzir minhas próprias facas, como hobby. Descobri uma paixão. O que me dá mais prazer é inventar modelos, fazer coisas diferentes — conta.
Desde então, nos horários de folga, calcula ter elaborado de cinco a seis mil peças artesanais, de todos os tipos e tamanhos. Tem exemplares comercializados em países como Estados Unidos, Portugal e Espanha e vende para o Brasil todo.
Em abril, tornou-se presidente da AGC (agcrs.com.br), que vive um momento de expansão. Embora as lâminas estejam presentes na cultura gaúcha desde sempre, em especial entre os apreciadores de um bom assado, há uma nova tendência em curso.
— As facas deixaram de ser vistas como armas ou apenas como instrumentos de corte. Passaram a ser objetos de coleção. Hoje, são como joias — resume o ourives do aço.
Capital mundial do churrasco
A mais recente criação de Daniel Alano é uma faca inspirada no projeto “Porto Alegre, Capital Mundial do Churrasco”, lançado em junho pela prefeitura, em parceria com empresários e entidades setoriais. Durante uma reunião com a chef Clarice Chwartzmann, curadora da iniciativa, Alano revelou a ideia.
— Estávamos conversando em frente ao Mercado Público. Ali, passavam bondes. Por que não fazer uma faca usando os pregos dos antigos trilhos, esquecidos em ferros-velhos? Foi o que fiz — relata Alano.
Assim nasceu um dos primeiros produtos com selo do projeto (veja as fotos abaixo), com direito a carimbo e certificado de origem.