Três anos depois, os bombeiros de Minas Gerais continuam o trabalho doloroso de revirar a terra no encalço do que passaram a chamar de joias: os restos mortais das últimas seis vítimas perdidas no tsunami barrento e tóxico que dilacerou Brumadinho em 25 de janeiro de 2019. Foram mortas 270 pessoas. Eles não desistiram delas.
Lembro até hoje do impacto que o fotógrafo André Ávila e eu sentimos ao ver de perto aquele mar marrom e fétido cobrindo casas, plantações, árvores, bichos e gente. Difícil, também, é esquecer a força de vontade dos profissionais responsáveis pelas ações de busca e resgate.
Durante a cobertura da tragédia, acompanhamos um grupo de bombeiros nessa dura missão. Aqueles homens e mulheres afundavam no lamaçal, esquadrinhando cada centímetro, por horas a fio, em busca de um sinal de vida. Qualquer sinal.
Com alguns deles, mantemos contato até hoje. O grupo guarda consigo fotografias captadas pelo André — são as imagens dos rostos enlameados exibidas abaixo.
A cada janeiro, as recordações voltam como ondas revoltas. Parte da equipe de salvamento retornou a Brumadinho. Parte acompanha o desfecho à distância. Mas todos eles — de alguma forma — seguem lá.
— Seis joias que permanecem na lama, perdidas em algum lugar. Desistir, para nós, não é uma opção — resume o sargento José Carlos Heringer Vieira, 41 anos, que viu o horror de perto.