Lançado em 2011, o álbum Canción Necesaria revelou para o público brasileiro uma parceria incomum e uma história fantástica: a união musical e afetiva da cantora argentina Cecilia Stanzione, que durante anos foi solista do grupo de Chango Farías Gómez (grande nome do folclore platino), com o saxofonista e flautista carioca Mário Sève, integrante do grupo Nó em Pingo d'Água e presença constante em trabalhos de artistas como Paulinho da Viola. O processo da gravação desse álbum, em um estúdio no interior do Rio de Janeiro, é mostrado agora no DVD Samba Errante. Focado no rosto e nos gestos expressivos da maravilhosa Cecilia, com flashes nos instrumentistas, o filme não tem nenhuma cena que o desvie da essência musical. É uma mescla de música brasileira e argentina, com leve predomínio da melancolia portenha.
Em 2008, Cecília entrou por acaso no MySpace de Sève e se apaixonou: "Era um tipo de música que há muito tempo eu desejava ouvir". Na hora enviou solicitação de amizade. Ele acessou o MySpace dela e: "Fiquei assustado, era uma voz que eu queria ouvir há muito tempo e que de repente se materializou na minha frente".
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Dias depois, caminhando numa rua do Rio, Sève "recebeu" a melodia de um tango, com aquela voz. O contato virtual se intensificou. Ele enviou a partitura do tango, e ela, que não compunha nada desde o nascimento da filha, quatro anos antes, fez em minutos a letra de Canción Necesaria. O primeiro encontro, em Buenos Aires, foi inevitável. Um ano depois, com Cecília já vivendo no Rio, seguiram compondo o material do disco, 12 músicas dele com letras dela em espanhol, ritmos das culturas de ambos.
Com arranjos de Sève, o álbum tem um quase misterioso sentido único, integração sublinhada pela emoção à flor da pele – que as imagens do DVD traduzem bem. A primeira música, Samba Errante, é uma bossa nova com cores de Buenos Aires. Una Milonga é uma milonga perfeita. Sève se revela também no chamamé, Justo Ahora, com participação de Ney Matogrosso (é neto de um correntino). Fora de seu chão, o que pode fazer a voz intensa e límpida de Cecília? Por exemplo, cantar um partido-alto como Roda Gigante, com refrão em português. Ótimos, o sax e a flauta de Sève estão cercados de grandes músicos como Gabriel Geszti (piano, acordeão), Rene Rossano (violões), Lui Coimbra (violoncelo) e Celsinho Silva (percussão). Em 2011, considerei Canción Necesaria um dos 10 discos do ano. O DVD ressalta sua significação.
Mário Sàve lançou há pouco um disco com o Nó em Pingo d'Água; Cecília também desenvolve projetos individuais no Rio.
Cinco dias para Fughetti
Demorou dois anos, mas o terceiro álbum solo de Fughetti Luz, Tempo Feiticeiro, está pronto. O prazo maior ou menor da fabricação do CD depende dos admiradores do lendário vocalista das bandas Liverpool e Bixo da Seda. Restam só cinco dias para o encerramento do crowdfunding na plataforma catarse.me/fughettiluz. Lá estão todas as opções de compra, que vão do disco simples ao autografado, com pôster, camiseta etc. Produzido por Marcelo Truda, tem os principais sucessos e algumas inéditas. Nunca um álbum do rock gaúcho teve tantas participações: de Mimi Lessa e Luciano Leães a Márcio Petracco, Egisto Dal Santo, Duca Leindecker, Duda Calvin, Marcelo Guimarães, Gabriel Guedes e a filha do Fuga, Shanti Luz.
O gaiteiro e o sanfoneiro
O sanfoneiro mais popular do Nordeste e o gaiteiro mais popular do Sul começam a amarrar as pontas para uma ponte entre as regiões. O cearense Waldonys e o gaúcho Renato Borghetti vêm matutando sobre o projeto de "mesclar as coisas", isto é: pesquisar os links históricos e musicais que as músicas regionais daqui e de lá têm através do acordeão. O mais óbvio desses links é o chote, ou xote, cuja origem e ritmo são os mesmos, embora sejam diferentes, facilmente identificáveis como de lá ou daqui. Além de amigos, Borghetti e Waldonys têm outros paralelos, entre eles o fato de terem se destacado ainda garotos. Pronta a pesquisa, a ideia é gravar um disco e sair tocando pelo Brasil. Hoje Borghetti se apresenta no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
Antena
VIOLA POP ROCK
De Carlinhos Weiss
Nascido em Praia Grande, Santa Catarina, e criado em Alvorada, Carlinhos Weiss aprendeu a tocar viola caipira aos 10 anos, com o pai, fã de duplas como Tonico e Tinoco. Mas, aos 14, enveredou para o rock e a guitarra, e o som caipira ficou para trás. Nos anos 1990, estudou com Duca Leindecker e tocou em bandas como Esfinge de Cristal e V8, até abrir com o irmão, em Cachoeirinha, o estúdio de gravações Áudio Laser – muito usado por nomes da música regional como Gaúcho da Fronteira. Aí foi o rock que ficou para trás. Até 2011, quando ele resolveu juntar as duas coisas e começou a gravar este primeiro álbum, de rock feito com viola. Para aperfeiçoar-se no instrumento, procurou a ajuda de mestres como o mineiro Roberto Corrêa. Com o tempero característico do rock gaúcho até no tipo de vocal (canta muito bem), Carlinhos toca viola com pegada de guitarrista e cria um estilo próprio, mais marcante ainda pela presença nos arranjos do acordeão (tocado, entre outros, por Luciano Maia e Luciano Camargo). A banda se completa com Carlos Dallastra na segunda viola, César Moraes no baixo, Luciano Freitas na bateria e quatro vocalistas. As músicas, com letras de Mário Hunter, cantam histórias de amor. Dois convidados especiais, o violeiro paulista Roberto Vignini (do duo Moda de Rock) e a cantora mineira Nayra Days, participam da faixa de abertura, Essa Moda Rock, que játem mais de 110 mil visualizações no You Tube.
Independente, R$ 25, à venda em carlinhosweiss.com.br
CACAI NUNES E REGIONAL CHORA VIOLA
Um dos grandes nomes da viola caipira no Brasil o pernambucano/brasiliense Cacai Nunes entrou na música pelo rock, até ser envolvido pelo ancestral instrumento de 10 cordas,quem começou a estudar em 2001, tendo como mestres, entre outros, o mineiro/ brasiliense Roberto Corrêa. Poucos anos depois, viu que para interagir com os amigos músicos precisava aprender a tocar choro. Não apenas tornou-se um chorão; foi tão fundo que, em 2007, criou o Curso de Viola na Escola Brasileira de Choro, de Brasília. Este terceiro álbum, em parceria com Léo Benon (cavaquinho), Dudu Sete Cordas (violão) e George Lacerda (pandeiro), diz Cacai, "é um trabalho para mostrar que a viola, primeiro instrumento a desembarcar no Brasil, tem desenvoltura suficiente para navegar por vários gêneros musicais, fazendo jus è denominação de viola brasileira, não apenas viola caipira". Curiosamente, um disco de choros assinados por bambas do gênero, começa com um raro baião, Ai Amor, composto por Carreirinho, grande nome da música caipira. A seguir, dez exemplares de choros de diversas variações e épocas, alguns inéditos: Floraux (de Ernesto Nazareth, com passagens de habanera), Chorinho pro Miudinho (Dominguinhos), Cuidado Violão (Zé Toledo), Lobo Guarânia (Cacai), Tua Imagem (Canhoto da Paraíba), Meu Chorinho (Jonas Silva), Homenagem a Vitoria (Carlos Poyares), Sarau para Radamés (Paulinho da Viola), Assombroso (Léo Benon) e Vamos Acabar com o Baile (Garoto).
Independente, R$ 25, em cacainunes.com