E aí, a fim de ouvir Arnaldo de novo ou pela primeira vez? Já está nas principais lojas do Brasil a caixa Arnaldo Baptista, com cinco discos lançados por ele entre 1974 e 2004, sendo dois inéditos em CD. Flashback rapidinho: a primeira fase dos Mutantes, com Rita Lee "expulsa" por Arnaldo, acabou em 1972; no ano seguinte, ele e seu mano Sérgio alteraram o som da banda para um rock progressivo tipo Yes, do qual ele pulou fora em 1973, vindo dessa época as primeiras notícias de que estava pirado devido ao uso cotidiano de LSD. E em 1974, mesmo desconfiada, a gravadora Philips lança seu primeiro álbum solo, Loki? - que, em 2007, ficou no 34º lugar de uma enquete realizada pela revista Rolling Stone para escolher os cem maiores discos brasileiros de todos os tempos.
Triste, sofrido, profundamente sincero, às vezes quase desesperado, mas com uma marca pop de alto quilate, Loki? merece a aura cult adquirida com o tempo. Feito com trio de piano (Arnaldo), baixo (Liminha) e bateria (Dinho Leme), tem os acréscimos de dois backing vocals de Rita Lee (na última vez em que ela associa seu nome ao dele) e dois arranjos de cordas do maestro Rogério Duprat, um deles na faixa mais clássica do disco, o samba Cê Tá Pensando que Eu Sou Loki?. Duprat, aliás, mais de uma vez afirmou que "Arnaldo era a cabeça pensante dos Mutantes" e que "os Mutantes foram a coisa mais importante do Tropicalismo". Outra faixa sempre lembrada também tem um ponto de interrogação, Será que Eu Vou Virar Bolor?. Sem dúvida, um dos álbuns mais descornados que se conhece.
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Para boa parte dos fãs, o disco que viria a seguir, Singin Alone, gravado em 1981 e lançado em 1982 pela loja Baratos Afins, tem importância idêntica, ou até maior. É uma egotrip completa. Tocando todos os instrumentos (piano, guitarra, órgão, baixo, bateria), Arnaldo segue um melodista muito inspirado em rocknroll, balada, blues e até ragtime. Sua voz é tensa, e as letras, várias em inglês, têm forte componente surrealista. A faixa bônus, como no relançamento de 1995, é Balada do Louco, com orquestra e uma produção de clima épico. Quando Singin Alone foi lançado, Arnaldo estava internado em um hospital psiquiátrico. A história posterior, com a lenta recuperação e a volta à música, é bem conhecida, está contada em um ótimo documentário de 2008 que pode ser visto em DVD.
O último disco da caixa é Let It Bed, de 2004, gravado no sítio com produção de John Ulhoa. Diferente de tudo, é um trabalho experimental, com programações, colagens, toadas caipiras em meio à música eletrônica. De novo, Arnaldo toca a maioria dos instrumentos e sua voz ficou grave como a de Tom Waits. Deixei para o fim os dois álbuns com a banda Patrulha do Espaço, que saem agora pela primeira vez em CD. Montado por Arnaldo em 1977, o quarteto durou menos de um ano, gravando um álbum de estúdio (Elo Perdido) e um ao vivo (Faremos uma Noitada Excelente), que só seriam lançados em 1988. São discos de banda de rock mesmo, pesados, urgentes, sujos, som de um líder brilhante mas perturbado, e de uma época, os anos 1970, em que o rock brasileiro foi quase marginal.
Desde o ano passado, Arnaldo está gravando novo disco, Esphera, sem prazo para sair.
ARNALDO BAPTISTA
Caixa com cinco CDs, edição limitada.
Classic Master/Canal 3.
À venda nas principais lojas físicas e virtuais. R$ 119,90.