O trânsito no Rio Grande do Sul está mais violento. E não é só na comparação com o ano passado, tão afetado na circulação de veículos por causa da pandemia.
O número de mortes nas estradas até o dia 20 de dezembro já é superior ao registrado em 2020 e também em 2019. Os dados negativos estão sendo percebidos nas rodovias federais e estaduais gaúchas.
Na avaliação do diretor-geral adjunto do Detran-RS, Marcelo Soletti, as ações no trânsito custam a sensibilizar as pessoas. Além disso, o número de mortes é resulta sempre em um somatório de fatores.
Porém, ele lembra o que ocorreu nas rodovias federais em 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro determinou que os controladores de velocidade fossem desligados nas rodovias federais.
- Isso acaba aumentando a velocidade, a imprudência, a ultrapassagem em local proibido. Vai acarretando outras coisas - avalia Soletti.
Além disso, por causa da pandemia, as fiscalizações de rotina foram suspensas, em Porto Alegre, por exemplo. Ações como balada segura, que combate a embriaguez ao volante precisou se adaptar e, por um período, só fazia o teste do etilômetro quem apresentava sinais claros de embriaguez.
- O que a gente está vivendo agora é uma retomada de vida. As pessoas estão saindo de novo, para um trânsito cheio de carros. E o motorista meio que se desacostumou com isso em 2020. Então, a gente tem uma situação que exige muito do motorista em termos de cuidado, em interagir com outros, em controlar velocidade, e as pessoas estão um pouco despreparadas e descuidadas com isso - avalia a engenheira Christine Nodari, coordenadora do Núcleo Universitário Interdisciplinar de Trânsito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Rodovias federais
O Rio Grande do Sul tem 5,77 mil km de rodovias federais. Nelas, 307 pessoas morreram entre janeiro e 20 de dezembro de 2021, segundo dados divulgados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na comparação com todo o ano passado, o crescimento já é de 30,6%.
A quantidade de óbitos registrada até agora em 2021 também já é superior ao ocorrido em 2019, quando 303 mortes foram contabilizadas. O número de acidentes graves, porém, mostram um caminho diferente. Em 2019 ocorreram 1070. Baixou para 887 em 2020 e, até novembro de 2021, essa quantidade é de 937.
Para o superintendente da PRF no Rio Grande do Sul, inspetor Luís Carlos Reischak, o aumento no número de mortes não decorre de uma diminuição da fiscalização. Pelo contrário, segundo ele, ações ostensivas, preventivas ou repressivas, além de campanhas, continuaram sendo realizadas mesmo durante a pandemia.
- O fenômeno do aumento dos acidentes, diga-se de passagem, é nacional, e não diz só respeito a rodovias federais, mas, no que nos compete, estamos dando prioridade em inibir essa tendência e influenciar no trânsito seguro. Esse período pós-isolamento certamente traz variáveis psicológicas, além de condutores que não estavam mais acostumados a dirigir em rodovias. Tudo isso temos considerado - avalia o inspetor.
Rodovias estaduais
Já nas rodovias estaduais, a pandemia não fez reduzir o número de mortes. Se em 2019, foram contabilizados 343 óbitos, o ano seguinte registrou 364 vítimas fatais. Mas, segundo o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), as estradas de sua competência já têm 367 mortes em 2021.
Para tentar reverter estes números, o CRBM tem incrementado as fiscalizações por excesso de velocidade. Prova disso é que, em um único final de semana de 2021, foram flagrados de 14 mil veículos trafegando acima do limite permitido.
- Esse combate a usuários infratores dar-se-á através da identificação de locais onde os sistemas informatizados nos trazem os pontos críticos de mortes. Ainda há de salientar que o Comando Rodoviário ao identificar pontos críticos de acidentes com resultado morte, onde o fator principal é estrutural, de imediato informa ao órgão responsável com circunscrição sobre a via para sanar tais problemas - informa o comandante do Comando Rodoviário Da Brigada Militar, coronel Luciano Moritz.
Porto Alegre
Na capital gaúcha, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) também está de olho no número maior de acidentes com morte ao longo de 2021. Em 2019, Porto Alegre teve 74 mortes no trânsito. A quantidade baixou para 64 no ano passado, e já está em 71, segundo levantamento até 20 de dezembro.
Além de intensificar ações neste mês, a EPTC lembra que todas as ocorrências que resultam em óbito são analisadas pelo Programa Vida no Trânsito (PVT). A partir de cada caso são avaliadas ações de engenharia viária, fiscalização, educação e comunicação.