Um lixão a céu aberto. Restos de obra, carrinho de bebê e até um cofre. Este cenário não é de um aterro de Porto Alegre. É sim de uma obra projetada para a Copa de 2014.
Aliás, este cenário não é novidade na região. Desde que foi iniciada, a ampliação de 1,9 quilômetros da Avenida Severo Dullius, na Zona Norte, passou mais tempo parada, e com lixo, do que em andamento. De forma intercalada, são cinco anos e três meses sem obras. É bem mais do que o período que esteve em andamento: 1 ano e 10 meses.
Quando pronta, a ampliação da avenida será uma alternativa para se deslocar entre a BR-116 e a Avenida Assis Brasil sem precisar passar pela frente do aeroporto Salgado Filho, por exemplo. Enquanto isso não acontece, ela hoje serve apenas de depósito de resto de entulho.
E a prefeitura de Porto Alegre está correndo contra o tempo para não perder o financiamento federal da obra. Há um mês, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) decidiu dar o último voto de confiança e manter liberado R$ 35 milhões para o término dos trabalhos.
Se não conseguir garantir o reinício dos trabalhos até o fim de setembro, a prefeitura dará adeus ao financiamento de forma definitiva, precisará usar verba própria para terminar a ampliação da avenida e corre o risco de ter que devolver para a União os valores até aqui investidos.
A Secretaria Municipal de Gestão informa que R$ 1 milhão já foi disponibilizado para a obra. Porém, ainda é necessário destravar outros processos que dificultam a retomada dos trabalhos.
Quando for possível contar com a volta de máquinas e operários, o primeiro serviço a ser realizado no local será a limpeza dos materiais depositados ao longo dos 900 metros já pavimentados da via.
"Será necessária a limpeza, varrição e lavação do pavimento, a fim de diagnosticar possíveis danos oriundos de queima do lixo, depredação ou roubo", informa a secretaria, por meio de nota.
Quando a região estiver limpa novamente, os trabalhos vão ocorrer no entroncamento entre a Avenida Severo Dullius e Rua Sérgio Dietrich. Neste ponto vão ocorrer terraplenagem, drenagem e pavimentação. Próximo à Rua Dona Alzira falta executar a segunda camada da base de brita e pavimentação.
Em paralelo, a prefeitura precisa concluir o projeto de desvio do canal Passo da Mangueira, localizado no encontro entre as ruas Dona Alzira e Severo Dullius. Ainda neste ano, é projetado o início dos trabalhos de recuperação do canal do Arroio Areia, que teve queda de taludes.
A empresa Procon, responsável pela obra, informa que há "grande interesse em retomar os trabalhos". Porém, os serviços só serão executados depois que todas as pendências forem solucionadas e que houver segurança jurídica para o cumprimento do contrato, "sem surpresas e decisões ilegais, que tem sido frequentes no desenvolvimento desses contratos, no intuito de não haver mais descontinuidade dos serviços, o que é prejudicial para todos", disse comunicado da construtora.
Histórico de problema
O contrato foi assinado em novembro de 2012, mas a ordem de início só foi dada em junho de 2013. Essa era uma das obras previstas para a Copa de 2014.
A prefeitura teve que readequar o traçado em virtude de restrições ambientais, pois a via passaria sobre um aterro sanitário. A autorização para início dos trabalhos só ocorreram em setembro de 2015.
A primeira paralisação dos serviços ocorreu em fevereiro de 2017 por falta de pagamento. A ordem de reinício da construção foi dada em junho de 2019. Cinco meses depois, a obra foi novamente suspensa por falta de projetos e de pagamentos e até hoje não foi retomada.