O prefeito Nelson Marchezan anunciou na semana que passou que recuou da ideia de cobrar pedágio para carros de fora de Porto Alegre. Agora, pela estratégia anunciada, a intenção é que os veículos que chegam ao Centro é que terão que pagar tarifa.
Recordo-me do prefeito, ao ouvir as críticas sobre essa ideia que pretende usar os valores arrecadados para amenizar os prejuízos das empresas de ônibus. Ele dizia: "então façam sugestões". Pois, então, essa sugestão foi dada a Marchezan, e ele aceitou.
Mesmo que ainda seja necessário que a prefeitura dê mais detalhes sobre o projeto, a proposta é válida sim. Mas algumas questões aqui me fazem ver, atualmente, que a prefeitura não tem condições para fazer este controle. Primeiro: os donos de carros teriam que ser obrigados a instalar uma espécie de chip nos seus veículos, porque duvido que a prefeitura planeje construir centenas de cabines de cobrança em cada esquina para acessar o centro.
Segundo, quem pagará por essa tecnologia? O dono do carro, que já terá que pagar o pedágio, ainda irá arcar com essa instalação?
Quem fiscalizará os veículos que burlarem as regras? Se a EPTC ainda enfrenta dificuldade para coibir flanelinhas em trechos da área azul, terá a prefeitura capacidade de incluir mais essa fiscalização?
E os moradores do centro? Caberá a eles fazer esse pagamento para deixar seu bairro? Aqui vejo, por exemplo, que a discussão certamente irá ganhar os tribunais. Então serão anos de discussão.
Mas as empresas de ônibus não têm esse tempo todo. O serviço está encolhendo. Linhas estão se sobrepondo. Em janeiro, antes da pandemia, as concessionárias já pediam R$ 5,20 em 2020. Até que toda a discussão seja concluída, e o pedágio implementado, a quanto irá a tarifa? R$ 6 neste ano? E quanto em 2021?
A solução para salvar o transporte coletivo envolve muito mais que o pedágio no centro. E a prefeitura sabe disso. Mas qual será a capacidade do Executivo em convencer os vereadores? Marchezan não conseguiu sequer acabar com a obrigatoriedade de cobradores em dias de passe livre, por exemplo.
Repito, a ideia é interessante. Já é adotada em outras cidades do mundo. Se não quer ela custear parte da passagem como faz a capital paulista, a prefeitura precisa aprovar um plano arrojado, que mude completamente a forma de transportar passageiros em veículos coletivos.
Ônibus menores, do tamanho de Lotações, precisam e devem ser usados para viagens com menos passageiros. Outra ideia que até hoje a prefeitura não conseguiu tirar do papel: cobrar passagem mais barata fora do horário de pico, assim como fez Curitiba. Mesmo havendo essa possibilidade, até hoje as empresas não adotaram essa ideia e culpam a diminuição de passageiros.
Se algo não for feito, muito antes da aprovação destes projetos que serão enviados para a Câmara de Vereadores, o que restará deste serviço de transporte de passageiros. O primeiro passo foi dado, que foi a prefeitura identificar que era necessário fazer algo. Pena que só viu isso depois que os aplicativos dominaram o mercado, com toda a competência diga-se de passagem, o que torna ainda mais complicado este momento que Porto Alegre tem que atravessar.