"O homem só envelhece quando os lamentos substituem seus sonhos." (Provérbio chinês)
Se vamos viver mais, o que parece ótimo, a primeira providência será preservar a utilidade do idoso, especialmente aquele tipo para quem o trabalho é energia vital e que não suporta ficar sedentário.
A novidade afirmada neste primeiro quarto do século 21 é a constatação transformada em queixa da legião dos que só conseguem se sentir vivos pela preservação da utilidade. E esse comportamento não pode ser visto apenas como uma excentricidade de velhinhos inconformados, mas como um sentimento universal, fruto de uma nova realidade, tão inquestionável que, com a crescente expectativa de vida no planeta, a valorização do idoso como força de trabalho tornou-se símbolo do desenvolvimento social de cada país que se pretenda desenvolvido.
Meu encanto pelos velhos é bem antigo. E com um aumento compreensível na medida em que fui me tornando um deles.
Como o envelhecer não segue uma fórmula universal de paralelismo com a idade, haverá sempre o risco de injustiça e desperdício de talentos se a velhice for sistematicamente atribuída a um determinado aniversário.
O sedentarismo pode provocar reações diversas e imprevisíveis nos eternamente ativos, desde ideias criativas de buscar novas atividades até os que não conseguem evitar e se tornam uns ranzinzas insuportáveis.
Os primeiros sintomas de que estamos migrando de turma é a diferença de tratamento pelos mais jovens, que usam com insistência o "professor" porque se sentem desconfortáveis com o "você". Mas isso não deve significar que não possamos contribuir transferindo experiência para que os novatos não repitam os muitos erros que cometemos. E, ao menos nisso, se sintam verdadeiramente originais, produzindo seus próprios vexames, e, cumprindo o destino, mantenham a roda do conhecimento girando.
Meu encanto pelos velhos é bem antigo. E com um aumento compreensível na medida em que fui me tornando um deles. Tudo começou lá atrás com meu avô materno, cuja morte trouxe um tipo estranho de orfandade, e que em nome da minha sobrevivência afetiva precisou ser tratada progressivamente pela conquista de avós emprestados, que depois de um tempo, como ocorre com filhos adotivos, se tornaram DNA compatíveis.
Baseado nessa vivência generosa, estou convencido de que uma grande crueldade do nosso tempo é tratar os velhos como invisíveis, o que machucará ainda mais àqueles que ainda não esqueceram do tempo em que foram importantes.
Senti pena, o que não é bom na velhice, de um paciente antigo a quem perguntei: "Como está a vida?". Antes que eu tivesse tempo de me arrepender da pergunta, ele, com olhos fixos no vazio, desabafou: "Hoje eu sou um tanto faz para quem eu tanto fiz". Fiquei buscando palavras de consolo, que nunca chegaram.