Um renomado otorrino recebeu no consultório um casal de velhinhos, muito ansiosos pelo resultado de uma biópsia de laringe feita pela esposa na semana anterior. Deu uma espiada no laudo, pigarreou e começou a explicar que, com os achados do laboratório, deveria encaminhá-la a um especialista em cirurgia de cabeça e pescoço, porque “Dona Maria, infelizmente se confirmou uma neoplasia, o que torna o seu caso mais complexo, mas vou encaminhá-la a um especialista, um grande cirurgião de cabeça e pescoço”.
A paciente, já com a surdez da velhice e também não entendendo o abuso do jargão técnico, vira-se para o marido e gesticula com a cabeça demonstrando que não estava entendo nada. E o marido resumiu:
— É o seguinte: esse daí não sabe nada e vai te mandar para um médico melhor.
Meu doutor, acho recomendável que demita esta menina. Imagina o que vão pensar do nosso médico se descobrirem que ele tolera o péssimo exemplo de ter uma secretária fumante!
Velho italiano, operado há muitos anos de um câncer de pulmão, fez uma demorada consulta de revisão, sob o olhar vigilante da esposa, que várias vezes sinalizou que ia apartar para contrariar alguma informação dada por ele, mas era imediatamente bloqueada com um gesto de cotovelo, forte e definitivo. No final da consulta, ele, já cansado, finalmente cedeu espaço para uma consulta paralela, uma prática rotineira em certas etnias.
— Desculpe, doutor, não queria abusar, mas ando assustada com minha pressão que do nada sobe, de me doer a cabeça. Mas agora nem adianta medir porque não estou sentindo nada!
Então o médico fez uma pergunta preliminar importante, porque muitas hipertensões estão relacionadas com a chamada apneia do sono:
— A senhora ronca?
Enquanto ela pensava na resposta, o marido aproveitou a brecha para dizer:
— Vê se mente para ele, agora!
Havia muita represália naquela provocação.
Na década de 1970, o uso do fumo em enfermarias e até em consultórios era frequente. Se médicos que seguissem fumando já definia o absurdo, imagine-se o paradoxo se o dito cujo fosse um pneumologista. Pois o personagem desta história fumava, menos no ambiente médico, mas não resistia à abstinência durante as infindáveis horas de consultório e fugia periodicamente para dar uma pitadinha rápida no banheiro. Um dos seus pacientes, o Fagundes, um ex-fumante inveterado que tinha abandonado o vício pela pressão do doutor, ao entrar no consultório, com o olfato recuperado, ficou pensativo um tempo, depois deu-lhe um conselho, de amigo:
— Meu doutor, acho recomendável que demita esta menina. Imagina o que vão pensar do nosso médico se descobrirem que ele tolera o péssimo exemplo de ter uma secretária fumante!
A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas idosas. O impacto do sofrimento pela doença no paciente e na sua família tem etapas distintas. Num primeiro momento, o paciente é quem mais sofre pela percepção de lapsos de memória com a observação de que alguma coisa está errada. Numa fase avançada, com desconexão cognitiva, o sofrimento é transferido, com exclusividade, para a família.
O Reinaldo, considerado uma velha raposa da politica interiorana, estava naquela primeira fase e fazia, no desespero de ocultar os “brancos” que vinha sofrendo, uma teatralização mal conduzida no desejo de aparentar intencionalidade. Um dos sobrinhos, no almoço de domingo, com o intuito de provocar, disse:
— Tio, acho que o senhor anda meio atrapalhado. Como está a sua memória?
— Perfeita. Lembro de tudo!
— Ah, é? Então diga o nome do nosso governador!
O Reinaldo ensaiou um riso debochado e saiu pela tangente:
— Imagina se vou esquecer o nome do governador! O problema é que eu não digo o nome desse canalha por nada deste mundo!
Dos neurônios da esperteza ninguém poderia se queixar.