À medida que avançamos na vida, alternando escolhas empolgantes e decepções cruéis, terminamos por construir nossa biografia, que um dia, depois da nossa mudança de fase, encontrará nossa prole orgulhosa com nosso desempenho ou constrangida pela mediocridade que tentamos disfarçar o tempo todo.
Como os modelos anteriores caducaram, por conta de tantas mudanças, teremos que nos reinventar, sem perder a noção do ritmo alucinante imposto pela aceleração da vida.
Em paralelo, há uma ansiedade crescente, com a sensação de que sempre estamos aquém do esperado, o que tem aberto a porta ao reino dos coaches, esses profissionais convencidos de que podem ajudar, despertando em você virtudes que desconhecia, por nunca terem sido estimuladas, ou simplesmente por não existirem.
O fato de sermos completamente diferentes (e temos que bendizer as diferenças porque, se não, o mundo seria insuportavelmente chato) sempre alimentou em mim uma certa irritação com a proposta típica dos livros de autoajuda, que oferecem formulas idênticas para a busca da felicidade por pessoas diferentes. Porque é assim que somos: diferentes.
Experiência de vida motivou Greg McKeown a escrever um livro sobre o chamado essencialismo.
Mas como nas últimas duas décadas esse tipo de literatura passou a ocupar espaços progressivamente maiores em todas as livrarias, daqui e de fora, é irresistível dar uma espiada nos mais badalados, em busca de uma ideia nova, que faça algum sentido.
E então, quando Alfredo Fedrizzi, um cara inteligente para não se impressionar com bobagens, recomenda um livro novo, melhor dar uma conferida. E o Essencialismo: A Disciplinada Busca por Menos, de Greg McKeown, merece mais do que isso, porque contesta, com uma linguagem coerente, alguns conceitos considerados clássicos. Esses que por falta de argumentação lógica ninguém se animava a contrariá-los.
O essencialismo é considerado mais do que uma estratégia de gestão de tempo ou uma técnica de produtividade. Trata-se de um método para identificar o que é vital e eliminar todo o resto, para que possamos dar a maior contribuição possível àquilo que realmente importa.
Enquanto a leitura avança, mais vezes nos perguntamos "Por que eu não pensei nisso antes?", numa mistura de perplexidade com encantamento pela fluência das ideias.
A experiência pessoal de Greg McKeown é muito convincente, porque ele representava o modelo do cara determinado e compulsivo, por fazer tudo perfeito e estar sempre disponível.
Um dia, Greg, um jovem ambicioso que emigrara da Inglaterra para o Vale do Silício, na Califórnia, foi apanhado numa encruzilhada da vida: sua esposa dera à luz naquela manhã de sexta-feira e quando o chefe ligou para convocá-lo para uma reunião com potenciais parceiros comerciais, vindos do Exterior, ele esboçou uma negativa que foi sepultada pela prepotência do comando: "Manhã de sexta-feira não é um bom momento para se ter filho!". Constrangido, ele deixou a família pra trás, mas ao ser apresentado aos estrangeiros como um modelo de engajamento por ser capaz de fazer o que tinha feito, recebeu em troca o olhar de repúdio dos visitantes, com a força de um comentário como "Mas que tipo é este, capaz de deixar esposa e filho numa hora dessas para vir a uma reunião com desconhecidos?".
A principal mensagem de Essencialismo é a necessidade intransferível de determinarmos, entre tantas coisas importantes, o que realmente fará diferença na nossa vida. Quando fechamos o livro, fica reverberando o conceito básico: "Se você não for capaz de eleger as suas prioridades, alguém fará isso por você". Então, antene-se.