"Se você quer chegar aonde a maioria não chega, faça aquilo que a maioria não faz." (Bill Gates)
Um dos assuntos mais debatidos nas rodas de velhos aposentados por tempo de serviço ou de desocupados crônicos por vocação tem até um nome sofisticado: ageísmo.
Não creio que haja evidência mais confiável de infelicidade coletiva do que o crescimento exponencial dos mais variados tipos de discriminação. E isso nasce da tremenda dificuldade que temos de assumir que o outro raramente é responsável pela genuína incapacidade de superar nossas próprias limitações e fazermos por merecer um futuro mais auspicioso.
E então, por preguiça ou incapacidade mental, preferimos ficar jogados na rede da inércia, culpando um inimigo, que não temos a menor intenção de encarar, porque afinal, desse combo, a covardia é um componente inarredável.
Jovens vencedores sempre cercam de cuidados os velhinhos produtivos. Os preconceituosos envelhecerão insignificantes.
Neste mundo competitivo, com empregos subtraídos pela tecnologia que progressivamente produz mais inteligência artificial contra a qual os cérebros humanos são impiedosamente suplantados, o velho, com seu passo mais lento, passou a ser encarado como um estorvo a ser removido, sob pena de que a sobrevivência seja comprometida. E esta luta obstinada, como sabemos, é um instinto básico.
A atitude diferente quanto à participação do velho no mercado de trabalho é reconhecida como um diferencial de qualificação social, revelando uma distância abismal entre os países mais desenvolvidos, e não por acaso com maior população de idosos, e os subdesenvolvidos, que tendem, por falta de cultura, abominar tudo o que represente ocupação de espaço que consideram destinado aos jovens, que supõem, nunca envelhecerão.
O comportamento de muitos veteranos, precavidamente, reduz a competição à medida que eles que se aposentam, não apenas do trabalho, mas escancaradamente da vida. Envoltos pela nuvem escura da invisibilidade, se deixam levar pela sensação que não ter compromisso ao levantar deve ser entendida como um prêmio que o conduzirá ao fim do dia, naquela sonolência cinzenta que garantirá outra noite sem sonhos e um novo despertar para coisa nenhuma.
Felizmente, há uma legião dos anosos sem idade, que já aprenderam o que podiam, ainda não começaram a esquecer e, tendo saúde e gana de seguir fazendo o que justificou a vida até ali, não aceitam parar só porque um calendário enfarado determina que sim.
Como esta condição de autonomia produtiva, por razões biológicas, não pode ser ilimitada, espera-se apenas que o senso crítico, que também advém da experiência, abasteça o espirito de quem seguiu correndo depois de ultrapassada a linha de chegada, com a sensibilidade para reconhecer aquele momento crítico em que o desejo de continuar começa a insuflar a tendência de negar o que os outros já perceberam.
Suponho que a maneira mais digna de protegê-los do ridículo do orgulho ultrapassado seja a monitoração da permanência da utilidade e sair à francesa quando ela escassear.
Aqueles jovens que trazem no olhar a certeza do sucesso no futuro, plantada lá pelo DNA vencedor, sempre cercam de cuidados os velhinhos produtivos, com a presunção justificada de que eles devem saber mais por mais terem vivido.
Enquanto isso, os preconceituosos envelhecerão insignificantes porque negaram que o problema estava neles. O tempo todo.