"O que nos incomoda não é o que não sabemos. É o que temos certeza que sabemos e que, no final, não é verdade." (Mark Twain)
Aproveito todas as oportunidades para estimular os jovens a usufruírem ao máximo este tempo maravilhoso das certezas, porque elas minguarão com idade. Este é um dos efeitos mais constantes na velhice, onde nos confrontamos amiúde com a sensação desconfortável de que estamos emburrecendo, com os nossos dogmas escorrendo convicção abaixo. Os desavisados nem imaginam que adiante chamaremos isso de sapiência.
Ser professor é experimentar, com a liberalidade de quem está no comando, do fascinante convívio com o jovem, esse tipo inquieto mas maleável, que com o amadurecimento pode se tornar um ser racional e gentil, que na essência contrasta com aquele senhor turrão que destila na internet toda a raiva que carrega no peito, como um crachá de amargura. Trato de cultuar as almas intactas, livres para acreditar que nascemos bons e que é nossa responsabilidade decidir se continuaremos assim.
Quando se chega à idade madura, só têm importância as coisas importantes.
A certeza absoluta, esta quimera que identifica, por uma afirmação qualquer, a juventude do autor, é recheada com outro atributo da imaturidade: a intolerância com a divergência. Estou convencido de que nos tornamos mais afáveis às opiniões dos outros à medida que o tempo vai mirrando as nossas certezas.
Quando se chega à idade madura, só têm importância as coisas importantes. Esta conquista, que anunciada assim parece ridiculamente óbvia, pode ser antecipada por alguma doença grave, cuja superação traz, como bônus, a ojeriza à picuinha, porque nada será maior do que a vida se ela esteve objetivamente ameaçada.
Quem nunca passou por um test-drive com a morte precisa envelhecer para descobrir o que merece nosso desvelo e preocupação. De posse dessa sabedoria duramente adquirida, os velhos se escandalizam ao verem famílias fraturadas por questiúnculas debatidas com a veemência de quem ostenta certezas incompatíveis com a racionalidade.
Um dos mais graves danos da pandemia tem sido a turbulência afetiva de famílias que, aflitas, inseguras e temerosas, se tornaram agressivas na defesa de valores e crenças, demonizando amigos e parentes, e para defenderem suas teses trituram os afetos mais antigos, como se esses laços amistosos não tivessem nenhuma valia. Para muitos, os encontros da família se tornaram palcos de beligerância.
Como é absolutamente certo que os objetos dessas discussões acirradas não sobreviverão ao tempo de uma geração, nada é mais urgente do que a reconciliação, enquanto as fraturas expostas da desavença gratuita ainda possam ser reparadas.
Porque não haverá remorso suficiente para acomodar a descoberta tardia de que o ódio entre pessoas que se deviam amar machuca mais, e depois de um tempo pode até adormecer, mas não vai embora. E então, quando mais se imagina que passou, uma indireta num jantar festivo da família incendeia tudo outra vez. Não pretenda consertar no futuro esses arrependimentos ridículos, porque o passado da discórdia se diverte jogando a chave fora.