Com a rapidez com que os tempos mudam nesta marcha acelerada da modernidade, um dos maiores desafios que a vida pode nos oferecer é como preparar os filhos para enfrentá-la.
Na falta de tempo para elaborar o melhor modelo, acabamos, por comodidade, fixando-nos no jeito com que fomos educados, que se não foi perfeito, trouxe-nos até aqui e, convenhamos, não foi tão ruim assim. Acontece que o tempo em que fomos educados não existe mais. Por mais que sejamos conservadores, perceberemos, na mais completa isenção, que poderíamos, sim, ter sido melhores.
Mas é inevitável que esta análise retrospectiva leve em conta qual era mesmo o projeto que tínhamos e que, bem ou mal, serviu de referência na construção dos alicerces da prole, rastro que deixaremos como herança.
Os modelos extremados e em muitos quesitos opostos remontam à polarização que tem mantido as ideologias em confronto acirrado.
O filho da visão capitalista dá muito mais trabalho, porque precisamos convencê-lo de que não há conquista sem risco. O socialista engordará a legião de filhos com diploma na parede e mesada do pai.
Em resumo, se optarmos pelo modelo capitalista, teremos que educar os filhos para a competição, porque esta é a característica de quem acredita que as melhores oportunidades têm que ser construídas, com preparação, gana e persistência. Eles têm que estar eticamente condicionados para a controvérsia, porque uma das características desse tipo, é a pretensão de decidir por conta própria, e sustentar a opinião. Oferecer os atributos que fazem da independência uma aspiração natural, mesmo que doa a separação física, é uma das durezas inevitáveis para esse pai, que considera liberdade e autonomia bens inegociáveis na busca elementar de felicidade.
Se a opção for pelo regime socialista, com o Estado como gerente de um modelo que tolera impulsos moderados e não descarta as vocações imprecisas, devemos treiná-los na luta pela equiparação de oportunidades, a partir de uma formação mais contestadora, com afiado discurso de protesto. Faz parte do pacote uma busca menos apressada de alocação profissional, naturalmente menos disputada, que lhe garanta uma remuneração fixa e, muito importante, estabilidade do emprego, uma dádiva divina, inexistente na iniciativa privada, sempre escravizada por gestores cruéis e materialistas. Como um bom socialista, menos preocupado com deveres absurdos, ele terá tempo de investigar os seus direitos e descobrir que sempre tem alguém tentando surrupiá-los.
Definido o modelo a ser utilizado na construção do futuro, não haverá surpresas com o resultado final.
O do modelo socialista, se estimulado à formação superior, optará por uma faculdade pouco exigente e, por conta disso, com uma remota possibilidade de emprego, que engordará a legião de jovens com diploma na parede e mesada do pai. Depois de um tempo, exasperante para a família, surge uma nova luz: o concurso público. Ali ele envelhecerá sem tensões que o tornarão um baixo risco para infarto, apesar do colesterol alto e do sobrepeso, inerente à apatia e ao sedentarismo. A aversão a compromissos explica, em grande medida, a baixa tendência à procriação e suas enervantes responsabilidades.
O filho da visão capitalista dá muito mais trabalho, porque precisamos convencê-lo de que não há conquista sem risco, que sentir medo é normal, mas não ajuda que os outros percebam, que nós somos só o que fazemos, que temos que estar disponíveis o tempo todo, e que, ainda que não consigamos ser o melhor no que façamos, temos a obrigação moral de tentar ser e que não há justificativas para desistir.
Se compararmos a construção da felicidade desse filho como uma locomotiva, cabe-nos acrescentar os vagões de qualificação à sua vida e protegê-lo a distância, assegurando-lhe, como no clipe que viralizou na web, que, enquanto vivermos, estaremos no último vagão. Como uma reserva técnica.