As presunções são muitas, mas a sensação final, frente a tantas manifestações de imprudência, é de que há alguma coisa a mais por trás dessa aparente "bravura juvenil".
Como tudo o que se diga atiça uma resposta com ares de provocação, talvez a nossa abordagem não esteja pedagogicamente adequada.
O convite que recebi era para uma live esclarecedora sobre os riscos que todos corremos com as aglutinações, que na juventude aparentemente são estimuladas pelas proibições, um comportamento frequente entre adolescentes ingênuos e adultos jovens imaturos, servindo de modelos de uma conduta abestalhada.
A primeira pergunta foi emblemática: "Por que nós, jovens, temos que ficar privados da nossa liberdade, se essa é uma doença de velhos?".
Não havendo como antecipar as reações do grupo, me aventurei pelo caminho mais lógico, o das verdades científicas, com todas as incertezas que a ciência ainda não resolveu.
Usando os olhos dos meninos como monitores da aceitação, fui avançando pelos caminhos inseguros do convencimento. Desisti precocemente de falar das características do vírus porque nada é mais enfadonho do que o retrato falado do invisível.
Ao confessar que ainda estamos aprendendo sobre uma doença nova que, diferentemente dos outros vírus que comprometiam, quase exclusivamente, os pulmões, este tem sido encontrado praticamente em qualquer órgão, tive a percepção de alguns bocejos.
O início da recuperação do interesse da plateia de garotos coincidiu com a informação de que este novo corona foi encontrado até no sêmen. Foi impressão minha ou alguns, prudentemente, cruzaram as pernas?
A informação de que um de cada quatro sobreviventes de formas graves, aqueles que exigiram respiração artificial, morreram nos seis meses seguintes à alta, e de que 40% deles necessitaram de reinternação neste mesmo período para tratamento de sequelas da doença, impressionou menos do que esperava, porque os meninos partiam do princípio que as vítimas deviam ser mesmo pacientes em idade de morrer, em que a covid-19 foi uma mera despachante.
Admiti que a idade não ajuda nada, especialmente na análise comparativa com os jovens, quanto à cognição e memória, significativamente alteradas nos idosos que adoeceram. Mas, querendo recuperar o interesse da galera, passei a falar do dano muscular, um alvo de preocupação naquela fase da vida em que cérebro e músculo disputam primazia.
Vários mudaram de posição na cadeira quando citei uma pesquisa que acompanha atletas pós-covid, que demoram muito ou não conseguem, na convalescência, retornar aos índices de excelência física que a atividade atlética de alta performance exige, e que isso tem sido atribuído a uma "má fase", quando na verdade é provável que o problema esteja no coração, que como músculo que é, pode demorar muito a voltar a ser o que era.
A primeira pergunta, quando abrimos o espaço para o debate, foi emblemática: "Por que nós, jovens, temos que ficar privados da nossa liberdade, se essa é uma doença de velhos?".
Senti, então, que a minha apresentação ia finalmente começar!
— Duas razões, e vocês estão convocados a dar-lhes a ordem de importância: primeiro, desejo ardentemente que vocês tenham pais, e torço que ainda tenham avós! Se for assim, espera-se que vocês não pretendam ser cúmplices do vírus na eliminação deles. Segundo, a nova onda de infecção está com perfil diferente, envolvendo mais pacientes jovens, sem nenhuma comorbidade conhecida. Então aconselho-os à autopreservação, porque a morte na juventude é maneira menos inteligente de evitar a descoberta de que a velhice não é a pior coisa que pode acontecer a alguém. Deste privilégio foi agraciada a minha geração, que já superou esta idade audaciosa e agora está preocupada com vocês, que não têm nenhuma certeza que envelhecerão.
No final, resolvi investigar:
— Pessoal, vendo as aglomerações nos bares, fiquei curioso: e se alguém aparecer de máscara, o que acontece com ele?
Um desavisado confirmou minha intuição: "Leva a maior vaia da galera!".
Questão respondida: a ousadia é falsa. O constrangimento do bullying é verdadeiro!