"A ética do dever define nossas obrigações como membros de uma comunidade, enquanto que a moral define nossas obrigações como indivíduos." (Hegel)
O Clube do Imperador é o meu filme predileto para mostrar a importância da figura do professor como instrumento de construção dos melhores modelos de cidadãos do futuro.
William Hundert (Kevin Kline, num papel monumental) é professor de uma escola preparatória para rapazes que recebe como alunos a classe alta da sociedade americana. Lá, Hundert dá lições de moral para serem aprendidas, por meio do estudo de filósofos gregos e romanos. O clima respeitoso em relação ao professor é quebrado pela chegada de Sedgewick (Emile Hirsch), o filho de um influente senador que rapidamente entra em confronto com as posições do docente, questionando a importância do que lhes é ensinado.
A descoberta de que o rebelde, cumprindo a sina de escorpião, trapaceara deixou o mestre arrasado.
Porém, apesar dessa irreverência, Hundert, impressionado com a inteligência do rebelde, acha que pode colocá-lo nos trilhos da dignidade e chega a favorecê-lo com uma nota melhor do que realmente alcançara, para que ele pudesse participar de um desafio cultural que era o grande evento anual na escola, o Concurso Júlio César, sobre a história da Roma antiga, seus múltiplos e seus controversos personagens. A descoberta de que o rebelde, cumprindo a sina de escorpião, trapaceara deixou o mestre arrasado. Ele, claramente, investira no mau-caráter e se penitenciava pelo que considerou um fracasso como educador.
Passam-se os anos e, um dia, o professor, já velhinho, é convidado por Sedgewick, agora pai de família e candidato à sucessão do pai no Senado, a reviver o Júlio César, num luxuoso spa da sua família onde estariam presentes todos os ex-colegas da turma, numa pretensa oportunidade de redenção pelo ocorrido, 30 anos antes.
O cerimonial se reveste de grande pompa, e no final o professor percebe que nada mudara (tem gente que acredita que o caráter pode ser modificado com educação!) e que, com um sofisticado dispositivo eletrônico no ouvido, a fraude se repetira.
O encontro dos dois no banheiro, depois esse incidente, é antológico. O mau-caráter interrompe o último sermão moralista do mestre e, supondo-se sozinho com o professor, na maior cara dura, discorre sobre as vantagens de uma trapaça inteligente, e que o mundo era dos espertos, e o quanto ele já lucrara com isso. A soberba desse discurso era o atestado da irreversibilidade do caráter. O problema inesperado é que seu filho também estava no banheiro e ouviu toda a conversa.
O que esperar do menino que o idolatrava, e que além do DNA distorcido ainda amargaria pela vida o exemplo do pai?
Por mais que o professor tivesse recebido um comovente retorno afetivo dos outros alunos, certamente carregaria pela vida a tristeza do caso malogrado.
Sempre comparo essa frustração com a do médico que salva dezenas de pacientes, mas isso nunca consola nem alivia a carga pelo caso perdido.