Como uma espécie de contraponto à maldade que insiste em ocupar as vitrines da mídia, há um processo social em andamento, com objetivo de tornar as pessoas conscientes de que nós somos originalmente bons, e que a propagação da bondade, torna a vida de cada um dos envolvidos, mais leve, mais harmoniosa e mais saudável.
Assim como não se reprime violência esmagando o violento (ainda que esta seja a reação natural do agredido), existem muitas evidências de que só a bondade abre portas com espontaneidade, porque este ciclo virtuoso não apenas conforta quem pratica, mas também constrange os agressivos.
Verdade que as tragédias despertam um lado sinistro que acionamos periodicamente para animar o flacidez do “tudo maravilhosamente bem”, que o mestre Ariano Suassuna já reconhecia como insuportável ao leitor de um romance que, pagina atrás de página, relatasse uma vida monotonamente feliz.
Mas o que queremos eleger como aposta é o jeito de sermos no convívio diário, com pessoas que ocupam o mesmo espaço e se alimentam dos mesmos sonhos, e sofrem frustrações que reconhecemos como nossas também.
Baseado na Universidade da Califórnia em Berkeley, um movimento chamado, muito convenientemente, de Greater Good ( Bem Maior, em tradução livre) tem produzido pesquisas interessantes que resultaram em observações inovadoras sobre as raízes da compaixão, da felicidade e do altruísmo.
A sensação reconfortadora que se tem lendo esses depoimentos é que, contra a corrente pessimista que desencadeia a respiração suspirosa ao fecharmos o jornal, nós, como sociedade, temos solução. E quando os adultos nos decepcionarem, sempre restará recorrer à pureza das crianças, porque este é o modelo perfeito do que fomos um dia, e que deve nos inspirar ao resgate quando esquecemos.
O Artur é um garotinho lindo crescendo numa família que chegou à terceira geração transbordando de afeto. Vítima da coisa mais incompreensível na infância, a doença, desde o primeiro momento, ele pareceu menos assustado do que a retaguarda de carinhosos adultos, todos com choro engatilhado.
No meio do tratamento, que vai curá-lo de um linfoma, chegou o momento de colher material da medula óssea para um autotransplante, logo adiante. Terminada a coleta, iniciou a espera pela informação do quanto a amostra era satisfatória. Quando a mãe recebeu a notícia da oncologista e, eufórica, passou a ele: “Artur, temos material para fazer três transplantes!”. A resposta adoçada pela boa índole de um coração generoso, saiu espontaneamente:
— Que bom, mãe, porque então a gente vai pode doar para quem precise também!
Impossível não compartilhar o orgulho do avô que ligou só para contar de que material o Artur foi concebido.