Aristóteles, o grande filósofo grego que viveu 350 a.C., definiu a política como a ciência da felicidade coletiva. O que aconteceu depois disso, a ponto de 24 séculos mais tarde esse núcleo ser apontado (salvo as honrosas exceções) como o menos confiável dos segmentos sociais, é uma construção de todos nós, os omissos.
O certo é que hoje ninguém quer que você acredite em coisa nenhuma, porque é a dúvida que deixa a massa maleável e suscetível a mudar de opinião. Isso em política é essencial para quem queira tocar o rebanho, mesmo sabendo que verdades de um dia podem se contradizer na próxima troca da guarda.
Então, cuidado com quem declara, peremptoriamente, que alguma novidade veio para ficar. E não se surpreendam se anúncios bombásticos não deem em nada. E sejam complacentes com aqueles que, confrontando o passado tem que admitir, ainda que em um acanhado sussurro: “Mas como é que eu fui dizer uma bobagem daquelas?”.
Ninguém quer que você acredite em nada, pois a dúvida deixa a massa maleável e suscetível a mudar de opinião.
Na revisão da história, o mundo digital tem sido implacável, criando inclusive uma verdadeira especialidade, a dos detetives da rede, dedicados a vasculhar o lixo do tempo em busca de uma estratificação social: de um lado, os farsantes, minoritários, mas tão barulhentos, que dão a falsa sensação de predominância. Do outro, uns tipos realmente estranhos, portadores de uma virtude cada vez mais rara entre os políticos: os que têm convicção e se orientam por ela. Como este comportamento anacrônico provoca desconforto nos oponentes, esses passaram a rotulá-los como sectários, jurássicos e, no máximo de ironia, de dementes. E entre os dois grupos, sobrevivem, com ar apatetado, os indiferentes, que, todos estão de acordo, é melhor que permaneçam assim.
A volubilidade da nossa política, onde moram de aluguel 35 partidos (até domingo passado) e nenhuma convicção, é a antítese de tudo o que creem os civilizados, que consideram a partidarização como uma escolha de vida, baseada em convicções elaboradas com muita reflexão, de modo a garantir estabilidade de conceitos e previsibilidade de atitudes.
Os historiadores, que aprenderam que a melhor maneira de prever o futuro é garimpar o passado, porque adaptado ao momento novo tudo se repete, se deliciam com rompantes ingênuos ou cínicos dos pretensos arautos da nova ordem. Que na verdade não são mais do que bisonhos subestimadores da perspicácia e da memória daqueles que envelheceram, sem jamais abrir mão da coragem de pensar por conta própria.
Alguns, para fugir da chateação recorrente de serem confrontados com discursos antigos e contraditórios, apelam logo para a clemência improvável da mídia com um descarado “esqueçam tudo o que eu escrevi”, mesmo sabendo que os traídos pela falsidade da atitude resistem à amnesia, com bravura. Mas o tempo passa, e como se o remoto tivesse sido posto para dormir, os donos do papo furado voltam e se sentem tão confortáveis, que passam a recomendar atitudes que, por preguiça ou cinismo, nunca praticaram. E pretendem que esqueçamos as bravatas que a indignação arquivada se nega em sepultar.