Depois da lambança que Richard Nixon protagonizou no inicio do segundo mandato que culminou com sua renúncia, em 1974, a única na história da democracia americana, os três anos que restavam foram cumpridos por Gerald Ford que, ao fim desse tempo, concorreu como candidato natural do Partido Republicano, agora habilitado a disputar a presidência. O candidato da oposição, o democrata Jimmy Carter, filho de um plantador de amendoim da Geórgia, no sul, foi massacrado durante a campanha pela mídia política e elite cultural (calma, a história é americana!) e, num famoso debate de outubro de 1976, foi atropelado pela arrogância de Gerald Ford, porque Carter parecia menos adequado à estrutura de poder vigente em Washington.
A virada histórica foi atribuída a uma resposta no último debate, quando o moderador ofereceu quatro minutos a cada candidato para as considerações finais, usados por Gerald Ford para realçar as diferenças entre os postulantes: ele com uma sólida experiência como vice-presidente e finalmente três anos como presidente, inclusive com destacada atividade na sofisticação da CIA e do FBI, indispensáveis à soberania nacional, enquanto que o seu concorrente tinha propostas de governo proporcionais à sua modesta experiência política como um agricultor que fora governador da Geórgia.
Quando lhe foi passada a palavra para que, nos mesmos quatro minutos, deixasse sua mensagem, Jimmy Carter declarou que não usaria todo aquele tempo, porque simplesmente queria dizer que ficara impressionado com a quantidade de segredos que os republicanos tinham para guardar e que, quanto a ele, tudo o que podia prometer é que nunca mentiria ao povo americano. A vantagem de Ford nas pesquisas desmoronou, e Carter tornou-se o 39º presidente dos EUA. Mais uma vez o narcisismo tinha perdido para si mesmo.
Se a história dessa eleição americana tivesse sido entendida em toda a extensão e as suas lições, didáticas e universais, envolvendo soberba e subestimação da inteligência popular, tivessem sido aprendidas, provavelmente a oposição brasileira não estaria hoje tão desesperadamente raivosa, procurando os responsáveis pela ascensão ao poder de um presidente, que na opinião dela, não tinha condições de exercer a nobre função.
A unanimidade afasta a dúvida e traz a paz da certeza serena, que é indispensável na construção da paralisia cerebral do fanatismo.
Se as incontestáveis denúncias de corrupção não tivessem sido simplesmente negadas, como se a população fosse demente e a ponto de aceitar que bilhões desapareceram por algum mal entendido, e tivesse havido a humildade de admitir os erros cometidos, talvez a implacável lei da natureza que determina que a toda ação corresponde igual reação não teria se aplicado com tanta contundência. Ninguém, com massa encefálica preservada, pode negar que o PT, convencido do seu irresistível poder, estirou a corda até o limite, e quando virou o fio da tolerância brasileira, se tornou o maior cabo eleitoral de Bolsonaro.
É pouco inteligente procurar alhures os culpados, quando todo mundo lembra que, durante quase duas décadas, eles compartilharam o mesmo endereço da desfaçatez. E nada de estranho nisso: a maioria prefere conviver com pessoas que comunguem das mesmas ideias, porque a unanimidade afasta a dúvida e traz a paz da certeza serena. Esta, que é indispensável na construção da paralisia cerebral do fanatismo.