A recepção aos novos calouros da Medicina era uma cerimônia esperada com ansiedade no meio acadêmico de Brusque, uma comunidade pequena do sudeste de Santa Catarina, com pouco mais de 130 mil habitantes, e considerada uma das melhores cidades para se viver naquele Estado.
Cada jovem, com aquele ar euforizante de vida recém inaugurada, que desfila pelo quarteirão acadêmico ainda tem a alegria adicional de quem vive em Santa Catarina, um oásis de sobriedade, conforto e liberdade para o crescimento dos mais novos com muita vida por viver e um reduto glamoroso da população idosa que batalhou muito e agora anseia por um recanto em que possa terminar a vida com o mínimo de sobressaltos. O Centro Universitário de Brusque (UniFEBE), com 40 anos de história, viveu o encantamento de recepcionar a primeira turma da nova Faculdade de Medicina. Conscientes da importância do evento e determinados a dar ao momento a solenidade indispensável a tudo o que se pretenda valorizar, os docentes estavam perfilados, orgulhosos de suas missões.
O tom dos discursos iniciais já revelava o grau de comprometimento da equipe docente na promessa reiterada e cheia de convicção de que esta nova escola de Medicina seria reconhecida no futuro próximo pela qualificação técnica dos seus egressos, mas também pela formação de profissionais imbuídos do humanismo, este que diferencia os médicos que sabem tratar não apenas as doenças das pessoas, mas, muito carinhosamente, das pessoas que adoeceram.
Na sequência, uma cerimônia sempre emocionante: a entrega do primeiro jaleco. Na medida em que a mestre de cerimônias chamava os calouros, a secretária se aproximava com o jaleco nominado e entregava à reitora ou ao vice-reitor que o repassava ao padrinho ou madrinha, e este, orgulhosamente, ajudava o afilhado a vesti-lo pela primeira vez. Em todas as circunstâncias, as conquistas institucionais demandam a ajuda de muitas mãos, determinadas e desprendidas, mas como sempre, e em qualquer lugar ou país, há uma pessoa que, pela gana de vencer os desafios, serve de modelo a todos os outros. E sem essa figura diferenciada, nada aconteceria, ou haveria necessidade de um tempo maior para se chegar ao ponto em que os encontrei.
Fui convidado para proferir a aula magna da faculdade, mas como não conhecia ninguém, fiquei observando os oradores e buscando identificar a tal pessoa, essa que faz possíveis as coisas improváveis. E de repente, ei-la ao microfone: dr. Osvaldo Quirino de Souza, um neurocirurgião, coordenador do novel curso de Medicina. Iniciou sua fala emocionada, citando Mark Twain, quando disse que “os dois dias mais importantes de alguém são o dia em que ele nasce e o dia em que descobre o porquê”.
A seguir, reiterou a intenção de fazer da nova escola uma referência de orgulho para a medicina do Estado e afirmou que isso seria alcançado pela fusão de tecnologia mais moderna com humanismo, porque acreditava que, no futuro, sem esta combinação, a medicina sucumbiria. Ao terminar, conclamou os alunos à contínua busca da excelência e prometeu que daqui a seis anos, numa cerimônia ainda mais bonita, haveriam de admitir que naquela noite fria do inverno de 2019 eles tinham descoberto o porquê.