O dono da Samsung teve o diagnóstico de uma patologia cirúrgica grave e foi aconselhado pelo seu médico a operar-se nos EUA, visto que as exigências tecnológicas do seu caso eram maiores lá dos que as disponíveis na Coreia do Sul, apesar dos avanços contemporâneos naquele país.
Internado num grande centro médico americano, teve confirmada a indicação cirúrgica, e o chefe da clínica, para tranquilizá-lo, disse: "O senhor será operado pelo nosso melhor cirurgião, considerado neste momento um dos astros da cirurgia internacional".
No fim da tarde, entrou no quarto um jovem cirurgião, e com ele uma mistura de surpresa e orgulho. O rapaz sorridente era coreano. Da Coreia que deu certo, naturalmente.
No pós-operatório, encantado com o resultado, o empresário, um dos homens mais ricos do mundo, chamou o jovem cirurgião para conversar e saber das razões da emigração. No final da conversa, uma promessa e uma exigência: ele construiria em Seul o mais moderno centro médico que o dinheiro pudesse comprar, mas o jovem devia retornar à Ásia e assumir a direção daquele empreendimento. E assim, numa fusão de oportunismo e competência, um grande talento, que por todas as razões parecia perdido, pôde ser resgatado, e é hoje uma das estrelas do majestoso Samsung Medical Center.
Nenhum país que pretenda ser minimamente progressista e competitivo pode abrir mão desses talentos genuínos, porque só estes cérebros privilegiados podem fazer alguma diferença em todas as áreas do conhecimento, mas muito marcadamente na ciência.
Esta é uma triste sina dos países mais pobres: não conseguem reter quem contribuiria para alavancar o desenvolvimento e, empobrecidos na origem, precisam se contentar com os medíocres e conformados, porque esses, conscientes de suas limitações, se submetem às mazelas por falta de alternativas, e provavelmente procriarão uma nova geração de submissos.
Confirmando a tese de que sempre é possível piorar, a última década despertou para a emigração uma geração de jovens, não necessariamente brilhantes, mas convencidos de que a esperança que os manteve sonhadores se esboroou. E então, olhando os filhos pequenos, órfãos de sonhos reais, concluem que a decisão mais inteligente é renovar o passaporte.
Uma pesquisa entre profissionais recém formados de todas as áreas revelou um índice assustador de candidatos a abandonar o país na primeira oportunidade, interessando menos qual será o destino final, como a dizer que, com o futuro prenunciado aqui, nada poderá ser pior em outro lugar, qualquer que seja a alternativa oferecida.
Na conta dos bilhões que a Lava-Jato tem levantado nas denúncias e delações, precisa ser contabilizado este impagável roubo da esperança.