A única coisa que poderia acontecer de bom para o presidente Lula em seu caso de paixão com a ditadura da Venezuela e com o ditador Nicolás Maduro seria que ambos chamassem menos atenção para as barbaridades que cometem. É uma pena que nem a ditadura e nem o ditador se lembrem de tornar a vida de Lula mais fácil. A última agressão feita por Maduro contra a democracia foi tão selvagem que Lula e os seus estrategistas se viram forçados a murmurar uma reclamação. Não deu certo, é claro, pois a queixa foi tão frouxa que acabou só causando prejuízo. Maduro ficou irritado. Quem não gosta de ditadura não melhorou em nada a sua opinião sobre Lula.
É um problema que não está em vias de ser resolvido, pois a única solução real é fazer uma opção moral e ficar contra a ditadura venezuelana. Mas Lula não sabe o que é uma opção moral. Além disso, ele é a favor, e não contra a ditadura de Maduro – não porque goste de Maduro, mas porque gosta de ditadura.
É um problema que não está em vias de ser resolvido, pois a única solução real é fazer uma opção moral e ficar contra a ditadura venezuelana
Se o governo da Venezuela conseguisse ser um pouco menos brutal do que é, o assunto não estaria tão em evidência e Lula não teria de apoiar tantas brutalidades. Mas acontece justamente o contrário: a ditadura fica cada vez mais ditadura. A Venezuela prometeu ao Brasil e a outros países, por tratado internacional, que faria eleições limpas – e a primeira coisa que fez foi cassar a candidata Corina Machado. Lula, então, disse, num de seus piores momentos de grosseria, que a vítima da violência não deveria “ficar chorando”, e sim apresentar outra candidata. Corina fez isso – e Maduro impediu também a substituta. Não deu, aí, para a diplomacia de Lula continuar dando a cara para bater.
Veio com uma nota aguada, covarde e burra dizendo que o Brasil estava “preocupado” com a evolução da farsa e tinha esperanças de que, no fim, o amor e a democracia pudessem vencer. É um disparate. A democracia não pode voltar à Venezuela enquanto os ditadores continuarem sendo ditadores e debochando das orações do Itamaraty com eleições como essa.
O episódio deixa claro o desprezo da Venezuela pelo Brasil e por aquilo que o Brasil acha ou não acha. Para Maduro, o Brasil é um país que disputa a segunda divisão. Qual a surpresa? O que realmente interessa para a Venezuela é a China e a Rússia. Lula e Amorim podem ficar sentados na sala de espera. Lula disse, tempos atrás, que a Venezuela era uma excelente democracia porque “tem mais eleições do que o Brasil”. Pode ser. O problema é que não pode haver candidatos da oposição. Lula sabe que é assim, mas fingia que não sabia. Desta vez ficou complicado continuar fingindo.