Pelo que determinam a lei, a lógica e a decência, é obrigação do governo administrar o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca para executar obras contra a seca. Pelas mesmas razões, deve dirigir a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba e o Banco do Nordeste para cuidar das carências regionais. Mas o governo Lula não respeita a lei, nem a lógica, nem a decência.
No caso, está utilizando esses três órgãos para dar empregos e vantagens a quem votar contra a CPI para investigar o 8 de janeiro em Brasília. É assim: fica contra a CPI e a gente descola para você uma boa boca no Dnocs, Codevasf ou Banco do Nordeste. Que diabo essa CPI teria a ver com o combate à seca no Nordeste? Nada, é claro – mas o Brasil vive um vale-tudo, em que o governo usa a máquina pública para atender a seus interesses.
O furor anti-CPI estaria levando Lula a manter o ministro das Comunicações – esse que usou um avião da Força Aérea para ir a uma exposição de cavalos. O homem pertence a uma das gangues partidárias do centrão, aliada ao PT; sua turma não aceita que ele seja posto no olho da rua.
O governo exige que toda a questão do 8 de janeiro fique restrita à punição dos presos
É mais um retrato do naufrágio moral dos dois meses e pouco de governo Lula. Não há escrúpulo: usar o Estado como propriedade privada tornou-se estratégia declarada. Da mesma forma, abusam da área econômica para aumentar o preço dos combustíveis, na obsessão de ter mais dinheiro para gastar, ou para inventar impostos sobre a exportação – uma aberração típica de governos incompetentes.
Resta o enigma da CPI. Ela está sendo solicitada para apurar o que aconteceu realmente nos ataques às sedes dos Três Poderes. Não há dúvida de que o governo Lula é uma vítima direta; o próprio presidente exigiu aos gritos a abertura da CPI, junto com os militantes mais irados. Festejam os 900 presos políticos na Papuda, exigem punição “exemplar”, denunciam “terrorismo”, e cobram multas de 100 milhões de quem está preso.
Mas, por um súbito mistério, o governo Lula fez um cavalo de pau na sua fúria repressiva: à medida que foram sendo divulgadas mais informações sobre o episódio, eles foram ficando quietos, depois preocupados, e hoje são histericamente contrários à investigação. Por que será?
O governo exige que toda a questão do 8 de janeiro fique restrita à punição dos presos; fora isso, ninguém pode abrir a boca para perguntar nada. É preciso dar emprego e outras vantagens para esconder os fatos? Podem dar à vontade – e é exatamente o que estão fazendo. O padrão moral para o brasileiro comum é uma coisa. Para o governo Lula é outra, e é essa que vale.