Não resta mais dúvida de que Elon Musk está disposto a ir até o fim na queda de braço com a Justiça brasileira. Depois de 19 dias bloqueada no Brasil, a rede social X (ex-Twitter) voltou a entregar postagens nesta quarta-feira, para surpresa — e, em muitos casos, expressado alívio — dos usuários.
O serviço voltou a operar graças a um drible técnico no bloqueio, imposto pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e cumprido pelas operadoras que oferecem serviço de internet.
Como isso foi possível?
O X “se escondeu” por trás de uma plataforma que opera no mundo todo chamada Cloudflare. A empresa de Elon Musk comprou um serviço de proxy reverso que mascara a verdadeira identidade do site X.com. O cofundador da Dex01&On2, uma empresa gaúcha de desenvolvimento de soluções, Jaydson Gomes explica:
— Quando digito X.com, eu saio do meu navegador, vou para o provedor, e ele identifica que X.com aponta para o IP 123456, e daí entrega o site. O X mudou seus IPs* para a Cloudflare, então quando tu digitas X.com, aponta para IPs que são desta empresa, e o X está por trás, mascarado. Os bloqueios feitos antes passam a valer mais nada.
* IP: sigla para internet protocol = protocolo de internet.
O grande nó é que os mesmos endereços de IP da Cloudflare estão também à frente de inúmeros outros sites no Brasil, e um bloqueio afetaria a todos eles — incluindo, provavelmente, sites de governo e serviços.
Como funciona o proxy reverso
Proxy é um servidor na frente de um grupo de máquinas clientes. Quando computadores tentam acessar um site, o servidor proxy intercepta a solicitação e se comunica com servidores web em nome desses clientes, como um intermediário.
Proxy reverso: se o proxy “direto” fica em frete aos clientes, o reverso fica antes dos servidores web, interceptando solicitações dos clientes. Assim, quando os clientes enviam solicitações ao servidor de origem de um site, essas solicitações são interceptadas antes, ou seja, o proxy não apenas filtra as requisições, ele é quem faz as requisições ao servidor de origem.
"Eles fizeram uma modificação para tornar o bloqueio muito mais difícil. Os provedores não têm o que fazer. Vamos aguardar a definição oficial sobre como proceder”, disse ao jornal O Globo o conselheiro da Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações, Basílio Rodríguez Perez.
Procurada pela coluna por meio de sua assessoria de imprensa, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) ainda não respondeu sobre que providências vai tomar.
— A Cloudflare construiu uma camada de segurança muito forte. Usamos o serviço deles para vários clientes, são bem robustos nessa parte — observa Jaydson.