Se Donald Trump for eleito presidente dos Estados Unidos, é bem provável que Elon Musk vire uma espécie de ministro.
“Estou à disposição”, postou ontem à noite no X o homem mais rico do mundo, junto a uma imagem criada por inteligência artificial dele próprio atrás de um púlpito onde se lê “Departamento de Eficiência Governamental” (nome que foi uma criação de um usuário da mesma rede social, fazendo um trocadilho com a sigla em inglês para Department of Government Efficiency – DOGE, a criptomoeda que Musk já chamou de “moeda do povo”).
Foi uma resposta do empresário à declaração de Trump para a agência Reuters, horas antes, quando questionado sobre se nomearia o bilionário para um cargo em conselho ou como consultor: “Ele é um cara muito esperto. Certamente sim, se ele topasse, sim. Ele é brilhante”.
Na mesma entrevista, Trump disse que pretende cortar benefícios da indústria de carros elétricos (da qual a Tesla é líder mundial) e reverter normas do atual governo para aumentar a produção de carros elétricos e híbridos para reduzir a emissão de gases poluentes. Ainda assim, Musk vem fazendo campanha pela eleição do republicano.
Musk se orgulha de ser atrevido: tem gosto por desafiar regras e correr riscos
Encaixar o estilo de trabalho do sul-africano em uma máquina governamental está a léguas de ser simples. O empresário construiu a Space X, a Tesla e a Neurolink (entre outras empresas) calcado em ousadia. Adora correr riscos, desafiar o status quo e prega dois mantras: se há uma especificação, questione; se o prazo é longo, está errado (e para ele, todo prazo dado por outra pessoa é longo).
Nos negócios, sua regra de ouro é SEMPRE desafiar especificações técnicas, dadas pelas próprias autoridades que fiscalizam a indústria. E o segundo passo é descumpri-las quase sempre, para ganhar tempo e economizar dinheiro. E estamos falando de foguetes e carros autônomos.
Na biografia do empresário publicada em 2023 por Walter Isaacson, sobram episódios em que ele arbitrariamente trocou o material usado para fabricar um componente, cortou pela metade a quantidade de parafusos para fixar uma peça ou construiu uma linha de montagem inteira em um galpão improvisado. Muitas vezes, ignorando riscos de segurança e/ou usando as próprias mãos.
A outra premissa do empresário: estabelecer prazos que parecem impossíveis de cumprir. Em suas empresas, nada é entregue no prazo calculado pelos engenheiros e, sim, na fração que ele mesmo ditar.
Arrastando servidores com as próprias mãos
Um exemplo: às vésperas do Natal de 2022, decidiu que levaria os servidores do X (ex-Twitter) de Sacramento, na Califórnia, para Portland, no Oregon. Seus gerentes pediram entre seis e nove meses para fazer a mudança, garantindo que o serviço não fosse interrompido, mas ele estabeleceu duas semanas de prazo. No dia 23 de dezembro, voou para a costa oeste com os escudeiros mais próximos e entrou madrugada adentro cortando cabos com canivete e arrastando com as próprias mãos os primeiros armários, cada um com mais de uma tonelada, para caminhões de mudança.
A transferência dos 5.200 racks aconteceu em menos de um mês, mas a seguir o serviço do X passou por meses de instabilidade. Musk admitiu, depois, para o biógrafo, que fechar o data center de Sacramento daquela fora foi um erro.