Virou notícia esta semana o "passeio" de um youtuber norte-americano com a Força Tática da Polícia Militar de São Paulo, em um dia de patrulha por favelas da zona norte da capital paulista. A bordo da viatura, de colete à prova de balas e acompanhado de um cinegrafista e intérprete, subiu morros, perseguiu moto roubada e acompanhou abordagens dos policiais. Tudo foi registrado em um webdocumentário de 39 minutos publicado no começo deste mês (veja abaixo).
No vídeo, ele também treina, luta e almoça com os policiais. No camburão, viaja no banco de trás eventualmente carregando um fuzil entre as pernas. Ri de nervoso e em determinado momento da patrulha, diz que “isso parece uma missão do Call of Duty” - um jogo de videogame.
— Este foi certamente o vídeo mais louco que já fiz. Mas definitivamente, o que eu mais me diverti fazendo.
O vídeo resultou em sindicância por parte da PM e afastamento de cinco policiais envolvidos na produção: o capitão que autorizou a gravação e os quatro agentes que aparecem no documentário (eles cumprirão serviços administrativos enquanto durar a investigação). Ao jornal Folha de S.Paulo, a Secretaria de Segurança Pública de SP disse que “a dinâmica mostrada nas imagens, envolvendo um civil em práticas exclusivamente militares, não é permitida e fará parte das investigações".
Mas quem é esse esse jovem?
Gen Kimura tem 27 anos, nasceu em Portland e vive em Austin, no Texas. Tem formação universitária em Finanças e Língua Espanhola e trabalhou como engenheiro em empresas de tecnologia, como Oracle e Salesforce, antes de se tornar um criador de conteúdo.
Criou a marca Explore the Unfamiliar (Explore o Estranho), sob a qual publica vídeos, podcasts e distribui uma newsletter semanal. Kimura diz fazer “jornalismo sem viés”.
— Se eu aprendi algo com minha missão é que tem dois lados para qualquer história, e quase sempre a verdade está no meio – diz ele na gravação junto aos policiais brasileiros.
Outros vídeos recentemente publicados por ele abordam temas como descriminalização de drogas, diversidade no ambiente profissional e racismo. Mas nenhum é exatamente sem viés. Kimura tem e defende opiniões. No último, postado nesta quinta-feira, vai a um protesto de ativistas pelo ambiente durante um jogo de baseball nos Estados Unidos com o propósito de expor a fragilidade do discurso deles.
Em um momento, diz que faz o melhor para se manter isento, mas, no seguinte, chama os ativistas de "ecoterroristas":
— Vandalizar a propriedade é o jeito mais idiota de trazer pessoas para o seu lado.
No perfil do youtuber no X, há críticas à não-monogramia - “Sério... como você cria filhos em uma relação poliamorosa, quando os pais estão saindo com outras pessoas?” - e diversas postagens atacando a imprensa. “Não importa de que lado você está, se você é minimamente razoável, não pode negar que o tratamento da mídia contra Trump é completamente desigual ao tratamento contra Biden”, escreveu ele.
Também sobram críticas à mídia tradicional. Em outra postagem, escreve que “jornalismo cidadão independente é o futuro”, usando dados de um site identificado com a direita sobre queda de audiência da rede CNN e reproduzindo um vídeo que acusa redes de TV de manipularem imagens para prejudicar Donald Trump e Vladimir Putin, além de uma live no Spaces (a plataforma de conversas ao vivo do X) com Jair Bolsonaro.
E também expõe o que diz emocioná-lo: um vídeo da Seleção Brasileira de 2006 no qual os Ronaldinhos, Robinho e companhia brincam de bater bola no vestiário ao som de Mais que Nada. “Isso é o legado do futebol”, escreveu.