O exército do presidente russo, Vladimir Putin, conquistou 478 km² de solo ucraniano desde o início de outubro. Conforme dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), com sede em Washington, nos Estados Unidos, esse é o maior avanço mensal desde as primeiras semanas da ocupação de parte da Ucrânia pela Rússia, iniciada em fevereiro de 2022.
E a confiança dos militares ucranianos em reverter a situação acaba de sofrer novo abalo, com a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. O bilionário do cabelo laranja questiona desde sempre a ajuda militar norte-americana e europeia para defesa da Ucrânia. Ele tem alardeado que os mais de US$ 100 bilhões enviados pelos EUA a Kiev até agora poderiam ser melhor empregados no front interno, com reforço da segurança na fronteira com o México para frear a imigração ilegal e a entrada de drogas.
O staff de Trump considera que o melhor caminho é mediar uma negociação com os russos, algo similar ao que propõe o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Só que com o cacife de quem fez investimentos bilionários na guerra.
Negociar, na cabeça de Putin, seria permitir que a Rússia controle as províncias do leste ucraniano, Donetsk e Lugansk. O chamado Donbass, rico em minérios e com grande parte da população simpática aos russos. Isso vai na contramão de tudo o que tem defendido o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que não admite ceder essas regiões e que fala inclusive em retomar a Crimeia, celeiro da Europa, província que era ucraniana e passou ao domínio russo em 2014. A Crimeia, aliás, poderia ser usada como barganha numa negociação, mas isso nem passa pela cabeça dos russos.
Caso decida pela continuidade da solução militar, Zelensky tem poucas chances de sucesso. Os dados do ISW apontam uma tendência de avanço russo, lento mas decidido, destaca o ex-coronel francês e historiador de guerra Michel Goya, em entrevista à agência AFP. Ele salienta que Moscou informa quase diariamente a ocupação de uma cidade ucraniana. Todas pequenas, mas isso é um recado.
Duas são as principais vantagens russas no conflito. Uma delas é sua artilharia. A indústria bélica russa produz mais canhões do que a Ucrânia os recebe do Ocidente. E os russos contam com munição iraniana e coreana. Só da Coreia do Norte a Rússia teria recebido 3 milhões de projéteis e 1,6 mil mísseis. Isso é matemático e terá um custo enorme para Zelensky.
A outra grande superioridade é de contingente humano. A Ucrânia luta para recrutar soldados, enquanto a desorganização e a corrupção do seu exército levam a deserções e recusas de alistamento. Já os russos possuem forças armadas cinco vezes maiores e, além disso, apoio de militares de nações vizinhas (como a Chechênia). A novidade nos últimos meses é um contingente de soldados da Coreia do Norte. São 11 mil norte-coreanos estacionados na fronteira russa e já teriam entrado em combate, alegam os ucranianos.
Já os aliados europeus não mandam tropas regulares para a Ucrânia. Permitem apenas que mercenários dos seus países atuem na guerra. Ou seja, o cenário é cada vez pior para Zelensky.