O Rio está em choque — e isso é muito grave, numa belíssima cidade cuja trajetória é marcada por violência de todos os tipos. Três ortopedistas foram assassinados num ataque praticado por mascarados numa zona nobre à beira-mar, a Barra da Tijuca. Um quarto médico sofreu ferimentos graves.
Os múltiplos assassinatos são mais um episódio de violência que mostra como a sensação de impunidade ainda impera na Cidade Maravilhosa. O Rio das belas praias é também território das milícias e das facções do tráfico, das mais poderosas do país.
Só que não é um episódio banal. A começar pelas vítimas, todos profissionais conceituados da Medicina e, ao que se saiba, sem envolvimento com crimes. Estavam num congresso de traumatologia e ortopedia. Aproveitaram a noite para se divertir, num quiosque perto do hotel. Por que foram mortos?
As redes estão cheias de teorias da conspiração. A principal delas é de que o alvo maior dos assassinos seria o médico Diego Ralf Bonfim, um dos mortos. Isso porque ele é irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Tem muita gente insinuando que seria uma represália de milícias aos posicionamentos da parlamentar.
A verdade é que isso não faz muito sentido, por vários motivos. O primeiro é que o alvo natural, fosse uma represália a posições políticas, seria a deputada, que mora em São Paulo.
O segundo é que os criminosos atiraram contra pessoas que estavam numa mesa de bar, no Rio, bem longe de onde a parlamentar atua. Nenhum deles era militante político ou envolvido na criminalidade, ao que se saiba. Seriam eles os alvos ou os matadores resolveram fazer terrorismo?
É mais provável que o crime tenha sido um ato de covardia e represália contra alguém ligado ao quiosque ou algum frequentador do estabelecimento, mas que por algum motivo virou emboscada a inocentes. Isso não é raro, nem no Rio, nem em qualquer cidade grande do Brasil.
Em Porto Alegre, mesmo, é comum que frequentadores de bares sejam assassinados de forma aleatória por alguém que deseja se vingar do comerciante ou, até, porque o boteco está situado numa área de facção rival.
Será que o bar está no meio de uma área disputada por diferentes milícias e facções? Virou alvo do terror ao acaso, para mandarem um recado aos inimigos? Ou era alvo específico? O que parece muito difícil é que os três médicos tenham sido assassinados em decorrência de suas atividades ou posicionamentos pessoais/profissionais. Claro que isso são hipóteses e só as investigações apontarão um caminho. Mas é a minha impressão, embasada em quase 40 anos de cobertura de casos criminais.