Saiu o listão de possíveis pedidos de indiciamento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de 8 de janeiro, formada por senadores e deputados federais. Ela investiga as depredações de prédios públicos ocorridas naquela data, este ano, no rastro de uma conspiração para impedir a continuidade do governo do recém-eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Não há grandes surpresas na lista, a começar pelo primeiro nome, o do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Conforme a relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), ele articulou uma tentativa de golpe e estimulou as invasões às sedes dos Três Poderes. O segundo indiciamento pedido pelo relatório é o do general da reserva Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa bolsonarista.
O que mais chama a atenção do colunista é que, dos 61 citados, 31 são militares ou ex-militares (entre eles, Bolsonaro e Braga Netto). A maioria absoluta, ligados às Forças Armadas e integrantes do governo federal. Nove são generais, incluindo dois ex-comandantes, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e Marco Antônio Freire Gomes. Um é almirante (o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier dos Santos). Nove integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) tiveram os indiciamentos pedidos no relatório por supostamente permitirem dano ao patrimônio público e por associação criminosa com os manifestantes que depredaram prédios públicos. Entre os listados está o ex-ministro do gabinete de segurança, general da reserva Augusto Heleno.
A lista dos possíveis indiciados por associação criminosa e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito inclui também o coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fez acordo de colaboração premiada com a PF e tem relatado uma série de supostos crimes cometidos por integrantes do governo passado. O relatório inclui ainda oficiais da PM do Distrito Federal, que teriam deixado de cumprir com seu dever funcional ao tolerarem as depredações no Palácio do Planalto, no Congresso e na sede do Supremo Tribunal Federal (STF).
Eliziane dirigiu palavras duras a Bolsonaro:
— Bolsonaro nunca foi um conservador no sentido tradicional do termo. Nunca defendeu a manutenção das instituições, nem manteve a prudência que deveria nortear a conduta verdadeiramente conservadora — alfinetou a senadora.
Bolsonaro ainda não falou a respeito do pedido de indiciamento.
É curiosa a presença do general Freire Gomes na lista. Apesar de ter sido comandante do Exército na gestão presidencial bolsonarista, há relatos de que tentou impedir um golpe de Estado. O delator Mauro Cid, em versões de seu depoimento publicadas na imprensa, declarou que Freire Gomes não só se recusou a participar da conspiração para afastar e prender ministros do STF como teria dito a Bolsonaro que seria "obrigado a prendê-lo" se recebesse nova sondagem a respeito.
Freire Gomes poderia ser indiciado, segundo o relatório da CPI, por prevaricação, por permitir acampamentos golpistas em frente aos quartéis do Exército.
Os pedidos de indiciamento podem ser votados na CPMI nesta quarta-feira.
Até o momento, os principais listados e as lideranças militares não se manifestaram sobre o texto.