O policial militar Marcelo Wille Thurow honrou o lema da profissão: "servir e proteger". Foi ao impedir um feminicídio em Nova Prata, no último fim de semana, que ele acabou baleado na cabeça. O tiro levou à sua morte, dias depois.
O autor do disparo foi um homem enfurecido, Guilherme Mariano, que ameaçava a namorada, uma policial civil, com a própria arma dela. A mulher foi bastante agredida, até que vizinhos ouviram seus gritos e chamaram a BM.
Os PMs foram recebidos a tiros e revidaram. Mariano morreu na hora, Thurow na quarta-feira (31), apesar das cirurgias a que foi submetido.
A verdade é que o serviço policial é feito de urgências cotidianas, como os gritos desesperados da mulher que era espancada pelo marido ciumento. E a morte pode estar à espreita num episódio banal.
Na maioria das vezes, policiais morrem não em grandes operações preparadas contra o crime organizado, mas em ocorrências para as quais foram chamados às pressas.
Thurow é um herói e foi assim saudado, pelos colegas e pela comunidade, só que após a morte. Felizmente, alguns policiais conseguem receber honrarias em vida.
É o caso do soldado Tiago Israel Lincke, que nesta semana foi homenageado pela Câmara de Vereadores de Três Coroas. O motivo é um ato de bravura do qual ele foi protagonista, em 3 de fevereiro de 2019.
Lincke resgatou uma família que estava presa dentro de um Voyage capotado numa ribanceira às margens da RS-115, em Gramado, na serra gaúcha. O veículo ficou pendurado em uma árvore, sobre um abismo.
O policial estava de folga, quando viu um grupo de pessoas na estrada tentando retirar do carro Maico Presse, a esposa dele, Paula, e o filho Gabriel, de sete anos. O veículo capotou durante uma chuvarada e estava suspenso num despenhadeiro, com rodas para cima, por ter parado na copa de uma árvore.
O Voyage balançava e qualquer movimento brusco poderia fazê-lo rolar penhasco abaixo. O soldado se esgueirou por baixo do carro e conseguiu pegar o menino, ainda com o Voyage balançando. Foi usado um cinto para suspender Gabriel até um voluntário, civil, que estava na parte de cima do barranco. Minutos depois chegaram bombeiros, que amarraram o veículo com uma corda e ajudaram a resgatar os pais do garoto, ainda presos no carro.
Lincke já foi homenageado algumas vezes por vereadores e prefeitos, mas aguarda há mais de quatro anos que a BM lhe conceda promoção por bravura, para o posto de sargento. Uma sindicância recomendou a honraria, mas a Comissão de Avaliação e Mérito da BM negou depois, por duas vezes, o reconhecimento do ato.
A situação do soldado sensibilizou o Comandante da Brigada Militar, coronel Cláudio Feoli, que considera ter ocorrido um ato de bravura. Semana passada ele recomendou à Comissão de Avaliação e Mérito da BM que faça reanálise do caso.
Será que enfim o heroísmo de Lincke será reconhecido em vida?