Sabe aquela sinaleira que deixou de funcionar e aquele quarteirão inteiro que ficou às escuras na sua cidade? Pois parte da culpa recai sobre empresas que são alvo, na manhã desta terça-feira (16), de uma grande operação da Polícia e Receita federais. Policiais e fiscais cumprem 59 mandados de busca no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Os alvos são receptadores de sucata e pessoas que eles utilizam como "laranjas" (intermediários) para legalizar a compra e venda de metais.
Os metais são fornecidos para metalúrgicas de todos os tamanhos e, em muitos casos, são fruto de diversos tipos de crime, explica um dos coordenadores da operação deflagrada nesta terça-feira, o supervisor da Equipe de Fraudes Estruturadas da Receita no RS, Marcelo Izaguirre. Uma das suspeitas é, sim, de que parte do cobre revendido pelos sucateiros é originária de cabos de energia ou de telefônicos subtraídos por ladrões. O que explica o surto de furto de fios vivenciada no Rio Grande do Sul. Só em Porto Alegre, esse tipo de crime triplicou em dois anos. No país, a alta foi de 14% em 2022.
No Rio Grande do Sul, o alvo principal é uma grande empresa de revenda de sucata na Serra. Ela costuma beneficiar resíduos de metais e enviá-los a metalúrgicas de todo o país. A investigação conjunta da Receita e PF aponta que parte das compras ocorre sem nota e parte da revenda é com notas forjadas (esquentadas), a partir de um plantel de colaboradores (pessoas físicas) que não têm capacidade para movimentar tanto dinheiro e nem lidam com o metal. São os chamados laranjas, usados para driblar o pagamento de impostos devidos.
Na questão do cobre, a suspeita é que grande parte seja proveniente de furto. Já um outro núcleo investigado pela Receita, de São Paulo, trabalha com ouro. A empresa receptadora declarou ter importado esse mineral do Suriname. Só que a investigação não encontrou provas de que o metal tenha ingressado legalmente no país, via navios ou aviões. Os indícios apontam que o ouro é em parte contrabandeado para o país (e recebe notas "frias" de importação) e, por outro lado, também é arrancado em jazidas clandestinas na Amazônia, recebendo depois documentação adulterada como se fosse importado legalmente. Isso explica a estimativa de que a fraude chega a R$ 4 bilhões.