A Polícia Civil realizou nesta sexta-feira (17) buscas num condomínio na zona sul de Porto Alegre onde o tráfico de drogas é comandado por um presidiário, que está na prisão mais inexpugnável do Rio Grande do Sul, a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Conforme as investigações, o fato de estar num presídio bastante restritivo não impediu esse bandido de ordenar crimes fora da cadeia.
Isso é a rotina em qualquer Estado brasileiro: o crime organizado acontece de dentro para fora das grades. Só que há algum tempo as autoridades prometem reverter essa situação. Em 2022 a Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS) do RS anunciou que, até novembro, 15 unidades prisionais gaúchas receberiam aparelhos capazes de bloquear sinais de celular e atrapalhar o voo de drones sobre os presídios. Custará R$ 61 milhões por ano. Essas prisões concentram quase metade (49%) dos detentos do Rio Grande do Sul, no regime fechado.
Um dos presídios onde o equipamento (que inclui torres) foi instalado é, justamente, a Pasc, de onde o bandido controlava crimes na zona sul de Porto Alegre. Em Rio Grande, na penitenciária estadual, os aparelhos também estão em instalação (uma novidade, que aplaudimos). Os bloqueadores são testados desde dezembro. Por que, então, criminosos continuam a se comunicar com o mundo exterior, desde a penitenciária, estranha minha colega Adriana Irion?
Fomos atrás de detalhes. A Polícia Civil não tem conversas "grampeadas" do chefe criminoso detido na Pasc. A comprovação dos crimes é indireta, foi obtida mediante rastreamento de comunicações dos gerentes deles, que estavam nas ruas. São eles que mencionam que o chefão continua a dar as ordens.
É provável que ele não tenha usado celular para continuar orientando crimes. Na Pasc, como em qualquer presídio, os presos recebem visitas. De familiares, de advogados. Mantém também contato com servidores. É possível que o quadrilheiro tenha repassado bilhetes ou conversado em código, para manter seus esquemas delituosos.
Mesmo que o bloqueio de celulares e drones tenha funcionado na Pasc, o cronograma de instalação de bloqueadores está atrasado. E só quando estiver a pleno teremos ideia se, como querem as autoridades, o delito orientado a partir das grades deixará de compensar. Até lá, continuaremos naturalizando o fato de que cadeias são universidades do crime.