A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira (14) dois irmãos investigados por crimes relacionados ao "orçamento secreto" - suposto esquema pelo qual, em troca de apoio no Congresso, setores do governo federal direcionariam verbas públicas para atender deputados e senadores, sem que eles sejam identificados. Os dois presos são suspeitos de montar uma rede criminosa envolvendo o Sistema Único de Saúde (SUS) em municípios do Maranhão.
A ação da PF está embasada em documentos apresentados por reportagem de Breno Pires, da revista Piauí. Com base na análise de planilhas de gastos do governo federal, ele mostrou que algumas prefeituras registravam atendimentos médicos e consultas que nunca existiram, via emendas parlamentares do chamado "orçamento secreto". A operação da PF, autorizada pela Justiça Federal, mira as fraudes no SUS e contratos irregulares no Maranhão.
Para ficar num dos casos averiguados pela PF: só na cidade de Igarapé Grande, com cerca de 12 mil habitantes, o esquema teria servido para desviar pelo menos R$ 7 milhões originados do orçamento secreto. Em 2020 foram realizadas 12,7 mil radiografias de dedo de mão naquela localidade maranhense, média de um por habitante. Com isso, aquele município ficou em quarto lugar dentre todas as cidades do Brasil que mais realizaram esse tipo de procedimento, atrás apenas de São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte. E superando o Rio de Janeiro. Até por isso, a PF deu à operação o nome de Quebra Ossos. A suspeita, lógico, é que os exames não tenham ocorrido e são registros fraudados para justificar desvios no orçamento, com o dinheiro referente a eles sendo destinado a políticos. No caso, aliados do presidente Jair Bolsonaro.
É a segunda operação da PF que mira políticos, em três dias. No início da semana o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), foi afastado do cargo e sofreu buscas e apreensões. Ele é aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Numa residência dele foram confiscados R$ 100 mil e outros R$ 14 mil num hotel. O inquérito se refere ao período em que Dantas era deputado estadual. Conforme as investigações, ele e outros parlamentares são suspeitos de desviar R$ 54 milhões mediante nomeações de funcionários fantasmas. Foram apreendidas planilhas que comprovariam os desvios.
Há quem veja nas duas ações influências das alas bolsonarista e lulista da PF, às vésperas do mais acirrado pleito da história recente do país. Esperamos que não, que sejam mesmo operações movidas por genuíno espírito de defesa do interesse público.