Em uma década, mais de 19 mil pessoas foram resgatadas de situações de trabalho escravo no Brasil. Os dados são da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), órgão do Ministério da Economia, e foram obtidos pela Fiquem Sabendo, agência de dados especializada no acesso a informações públicas via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Conforme a SIT, foram realizadas 1.387 operações de resgate entre 2010 e 2020 (englobando 19 mil resgatados). Pelo menos sete empresas aparecem na lista com mais de 100 trabalhadores resgatados de suas instalações, no período. Uma só empresa, de criação de gado, teve 565 trabalhadores devolvidos à liberdade. A maioria dos casos ocorre no setor primário, em granjas, extrativismo florestal ou fazendas.
As irregularidades variam muito. Em muitos casos, os empregadores cortam o direito de ir e vir dos empregados. Em outros, o trabalhador não recebe o dinheiro prometido e acaba trabalhando em condições totalmente insalubres, inclusive com excesso de horas de serviço.
A pandemia trouxe redução no número de resgatados, mas em alguns tipos de atividade, não. É o caso dos cultivos de café e soja. A maior parte dos casos ocorre no Centro-Oeste. O Rio Grande do Sul não é destaque na lista, está entre os que menos episódios de resgate registrou. São apenas 27 operações listadas pela SIT, com mais de 350 resgatados (é possível que dados estejam defasados).
A grande maioria dos casos no Rio Grande do Sul ocorreu no setor de extração de madeira. Seguem-se episódios na área de cultivo de batatas e de maçã. Casos urbanos (comércio e indústria) são menos frequentes em território gaúcho, pois são crimes mais difíceis de ocultar na cidade.
O SIT ressalta que ter o nome na lista não significa que a empresa citada foi condenada, já que pode haver apresentação de recursos. Os dados refletem somente as autuações feitas pelos auditores na data apresentada. De qualquer forma, são situações que mostram padrão de relações de trabalho que vigoravam dois séculos atrás. E isso que esses são apenas os casos que chegam às autoridades e resultam em resgate. Lamentável.